The Walk – O Desafio

Realizado pelo sempre arrojado Robert Zemeckis (Trilogia Regresso ao Futuro, Forrest Gump, Polar Express), The Walk é convictamente um desafio cinematográfico para todo o mundo.

Sob alguma ironia, começa na Estátua da Liberdade, local onde se poderia avistar as magníficas Torres Gémeas do World Trade Center, situadas em Nova Iorque. Narrado na primeira pessoa, conhecemos Philippe Petit, um acrobata que adora correr riscos. No dia 7 de Agosto de 1974, o francês tornar-se-ia a primeira – e única – pessoa, a caminhar ilegalmente sobre os edifícios, que se separavam por aproximadamente 42 metros.

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Não fique admirado, quando descobrir que The Walk é a caminhada do ano. Em período festivo – 120 anos de cinema – evoca-se uma espécie de cariz clássico, pelo modo como aborda toda a história cinematográfica. Desde cenas iniciais a preto-e-branco, na forma como conhecemos o protagonista (próximo ao mágico, ilusionista e pioneiro George Méliès), até ao peso da voz e a sua demarcação das imagens, conferindo-lhe outra dimensão como aconteceu em finais da década de 20. Enfim, é a verdadeira lógica do nascimento.

Estamos diante de uma história verídica. Contrariamente ao que se tem visto, neste exemplo, poderá ser feita a aproximação de grande história de vida a grande filme. Bem sabemos que o conceito bigger than life é um vestígio do cinema mainstream, mas o mesmo consegue criar algo “belo”, como Annie, companheira de Petit, nos repete estupefacta, no documentário Man on Wire (2008), que inspirou esta obra-prima.

The Walk: O Desafio

A narrativa assume proporções gigantescas, aliada à sua projecção num ecrã IMAX 3D. É tempo de colocar de parte suposições ignorantes sobre a colocação dos óculos. Sim, só atrapalham, mas garantem uma nova conotação ao termo “olhar”, cada vez que um enredo deste género estreia em sala.

É belíssimo olhar para um artista daquele calibre. O seu passear no topo de Manhattan, sem quaisquer métodos de segurança, encaminha-nos para o cliché que o próprio cinema repete, nada é impossível. Joseph Gordon-Levitt, ou Phillipe Petit, dependendo do ponto de vista em que se situa no real versus representação, confunde-se com o arame. Arame que dá vida a um espaço, que só na experiência das imagens em movimento, torna-se novamente físico.

O próprio teórico Jacques Aumont diz-nos que a sétima arte é um duplo real, porque a realidade é captada pela objectividade da câmara. Aqui, o real já não existe. Foi aniquilado pelo maior atentado terrorista da história moderna e reconstruído em estúdio. Não há uma já complexa impressão de realidade, mas um recriar da impressão da realidade – tal como em Titanic (1997), de James Cameron.

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Salvaguarde-se também o trabalho do elenco. Joseph Gordon-Levitt tem um excelente trabalho de dicção, prova do sempre arriscado, mas preferível, desafio de escolher intérpretes que não são aqueles do país de origem das suas personagens.

Com conteúdo expresso do nacionalismo americano, The Walk – O Desafio olha constantemente para o futuro. São dados passos, agora de cabeça erguida, para o arrojado espaço de emoções cinematográficos que durará, tal como a permissão de Philippe Petit de visitar a Plataforma de Observação das Torres Gémeas, “para sempre”.

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