Do ponto de vista político, vivem-se tempos refrescantes em Portugal.
É possível que os mais distraídos não tenham ainda percebido, mas, enquanto órgão de soberania, a Assembleia da República Portuguesa é cada vez mais um espaço de pluralidade e igualdade a todos os níveis. Temos pessoas de raça negra, alguns gagos e vários carecas. Sinto que estamos apenas a um marreco e um coxo de atingirmos a plenitude.
Na verdade, temos assistido a várias mudanças interessantes: a elevação do debate estadista, a entrada de novos partidos no parlamento, o surgimento de novas ideias e até a intervenções públicas de ministros com exacta noção das suas responsabilidades. É um serviço inestimável. O que se saúda.
Por exemplo, recentemente, a ministra Maria do Céu Albuquerque referiu que o coronavírus pode ter “consequências bastante positivas” na agricultura em Portugal e também nas exportações de produtos nacionais para os mercados asiáticos. Faz falta mais pessoas em Portugal com esta visão estratégica. A economia portuguesa agradecia. É por isso que, ao contrário da maioria dos portugueses, tenho uma opinião muito positiva sobre os nossos políticos. Aguarda-se agora com grande expectativa que ocorra um surto da doença de Dupuytren, visando os pasteleiros espalhados pelo mundo e que traga “consequências bastante positivas” para a exportação de pastéis de nata fabricados em Portugal.
Ao mesmo tempo que limita a mobilidade dos dedos, esta doença pode também provocar contractura no pénis, pelo que sugiro ao governo que dê indicações muito específicas para a exportação de Zézé Camarinha, pois trata-se de um profissional bastante habilitado a lidar com pessoas de várias nacionalidades. Não precisam agradecer.
Dificilmente encontraremos debates parlamentares tão entusiasmantes como em Portugal. Quantos países se podem gabar de ter André Ventura, Ferro Rodrigues ou Joacine Katar Moreira? O povo português não sabe a sorte que tem. Peço ao leitor que não entre, para já, em euforias, pois nem tudo é exemplar, na medida em que parece faltar aquele inestimável bafo a taberna nos debates políticos do hemiciclo. A todo o momento se espera que Ferro Rodrigues limpe o balcão, ponha o pano ao ombro e sirva dois ou três bagaços a André Ventura, ao mesmo tempo que o manda calar, enquanto este repete a palavra “vergonha” e faz uma saudação nazi.
Talvez seja uma questão de tempo, mas essa perfeição chegará, não duvido.