Não existem sonhos que valham sacrificar o que de bom temos nesta vida.
Sempre ouvi dizer, e bem, que devemos lutar pelos nossos sonhos e garantir que se tornem realidade. Porém, não devemos passar por cima de tudo e todos apenas pelo sonho, que poderá nunca vir a preencher aquele espaço que idealizámos e deixar dentro de nós outros vazios que nos podem destruir.
Abdicar de pessoas que amamos ou de coisas com que sempre contámos e que, de alguma maneira, fazem parte de nós não é certamente uma boa opção.
E, com isto, não estou a dizer que se deva desistir dos sonhos. Não. De todo!
Devemos sempre procurar a concretização daquilo que desejamos. Sempre, mas não a qualquer preço, porque existem conquistas que precisamos partilhar e, sejam quais forem as nossas vitórias, devemos sempre cuidar para ter um porto de abrigo para os fracassos e os insucessos, que inevitavelmente farão parte de qualquer caminho.
Ninguém é feliz sozinho. Ninguém.
Há quem crie essa ilusão e que passe por cima de toda a gente para vencer, sem escrúpulos e sem dó ou piedade.
Pois bem, até podem lá chegar e obter o que querem, mas depois olham à volta e não têm ninguém para os aplaudir, que os felicitem, para quem sejam motivo de orgulho ou, principalmente, não têm ninguém com quem possam partilhar essa conquista.
É o vazio de tudo o que foram destruindo aos poucos.
Esse vazio não se preenche com a glória de um sonho concretizado.
E o sonho, aos poucos, passa a ser pesadelo e a solidão começa a carcomer a dita felicidade que chegou oca, mesmo que feita de suor e lágrimas.
A melhor forma de atingir a felicidade (e aqui penso que é a principal pretensão de todos nós), é alcançar cada um dos objectivos com dignidade, esforço, persistência, tenacidade, coragem, e assim por diante, sem nunca vender a alma ao diabo, sem nunca pisar ninguém ou sem nunca deixar para trás os valores e a ética.
Existem sonhos que são apenas sonhos, mas uma amizade, um amor, uma outra pessoa, quem quer que seja, é um valor que será sempre mais alto.
Renegar alguém que amamos é sempre uma perda inestimável, quando o fazemos em troca da ganância de realizar aquele sonho pelo qual estamos obcecados.
Está muito na moda a teoria que devemos viver para o nosso umbigo e que é suposto, apenas e só, ter em consideração aquilo que nos serve, abalroando tudo o que nos oferece resistência ou que não nos convém.
Parece um bom conselho, mas não é. É somente a mentalidade de uma sociedade que está cada vez mais centrada na individualidade e no egoísmo, fomentando cada vez mais a solidão e a futilidade de vidas a contrarrelógio.
Há preços que são tão estupidamente elevados que acaba por ser ridículo alguém estar disposto a pagá-los, para acabar com uma mão cheia de nada.
Mais uma vez, relembro que é essencial ter sonhos e lutarmos por eles à séria, sem trafulhices e sem maldade, para que consigamos desfrutar de tudo de coração aberto e alma descansada. Sempre.