Os norte-americanos têm uma expressão que usam quando uma situação é muito complicada, quer de se resolver, quer de se explicar: “one hell of a mess”. É exactamente nesse “hell of a mess” que o Iémen vive actualmente. O país está dividido em três grandes partes com cada parte a ser controlada por uma facção diferente. Grande parte do país (centro e Leste) está sob o controlo do Governo Hadi (reconhecido pela comunidade internacional como o legitimo governo do Iémen) e do Movimento Sulista. O Oeste do Iémen é controlado pelos rebeldes Houthis e o centro Norte e Sul é controlado pela aliança entre o Ansar al-Sharia e a Al-Qaeda da Península Árabe, com cada facção a reclamar para si o direito de formar um Governo.
Esta destabilização do país está neste momento a ser contrariada por uma coligação liderada pela Arábia Saudita e pelos restantes países da Península Arábica, entre outros parceiros internacionais.
Porém, como é que o Iémen chegou a esta situação? De forma resumida, esta destabilização é a continuação da Primavera Árabe e do caos governativo que se lhe sucedeu. O Presidente Saleh demitiu-se, como parte de um acordo entre os grupos opositores ao Governo e este, sendo substituído, a título temporário, pelo Presidente Hadi, que mais tarde veio a ser eleito (era também o único candidato). E daí para a frente tem sido sempre a piorar. A corrupção que grassa nas forças armadas e na polícia, aliada à ineficiência das mesmas, permitiram o armamento destes grupos rebeldes, que, através de atentados, assassínios e intimidações, conseguiram atingir o controlo de grandes zonas do país. O Presidente Hadi foi forçado a sair da capital Sanaa para a cidade costeira de Áden e daí para um local secreto na Arábia Saudita.
A pergunta que se impõe actualmente é: Como resolver a situação do Iémen? Não fazer nada não é solução, uma vez que iria claramente dar a vitória aos rebeldes Houthis. No entanto, os raids aéreos da Força Aérea Saudita também não têm estado a surtir os efeitos desejados. A única solução é mesmo uma ofensiva militar em larga escala, ofensiva essa, que iria certamente criar um problema grave numa região já de si instável. O problema é que ninguém quer assumir as responsabilidades dessa ofensiva. Os Estados Unidos da América não têm os conhecimentos necessários para combater uma guerra de guerrilha urbana (provas disso são as sucessivas derrotas no Iraque e no Afeganistão), enquanto isso, os sauditas não têm as forças (também se pode ler vontade) necessárias e os restantes países da península simplesmente não se querem incomodar, fazendo apenas o mínimo necessário. O Iémen não é um país estratégico e há maiores preocupações na zona (Irão, Egipto, Síria, Iraque, etc.) e, como tal, foi deixado à sua sorte.
Actualmente, o clima no Iémen é de guerra civil. Há atentados diários, o governo é invisível e ineficaz e os rebeldes ganham cada vez mais terreno. A este ritmo e ineficácia não será de estranhar, se antes do fim do ano, tenhamos uma nova república islâmica, ou, num caso mais extremo e preocupante, um califado na Península Arábica.