O mundo vive, hoje, num período de crescente indignação e descontentamento, mas, também, num período em que as vozes descontentes se tentam fazer ouvir cada vez mais. Com a adopção de medidas de austeridade em todas as regiões do mundo, após o início da crise económica e financeira mundial, houve um grande aumento de protestos.
A Europa não escapou a esta tendência. Com movimentos de centenas de milhares de cidadãos indignados e descontentes a ocupar as praças públicas da Grécia, da Itália, de Espanha e até de Portugal, a Europa tem assistido a uma explosão do número de protestos. Uma democracia real e o fim da economia de austeridade são duas das principais exigências que ecoam nas vozes dos protestantes.
Em Portugal, esta explosão começou em 2011 com o movimento “Geração à Rasca”. Mais tarde, este movimento nascido nas redes sociais foi sucedido pelo movimento “Que se lixe a Troika”. Foram largos os meses de manifestações pontuais e muitas as vozes que cantaram a “Grândola, Vila Morena”. Depois de ser ecoada pela primeira vez à porta do Palácio de Belém, em Setembro de 2012, a icónica canção de Zeca Afonso passou a ser uma marca do movimento “Que se lixe a Troika”. As “grandoladas” tornaram-se, assim, numa famosa arma de protesto neste país.
Em protesto, as vozes tentaram fazer-se ouvir e, de facto, foram ouvidas. Foi na grande manifestação de Setembro de 2012 que os protestantes conseguiram alcançar um sucesso. O maior protesto realizado até hoje, em Portugal, acabou por fazer cair o aumento da Taxa Social Única (TSU). Contudo, esta foi a única mudança política resultante das contestações e os momentos atípicos de protesto não tardaram a diminuir.
Mesmo sem a diminuição da austeridade, o movimento acabou por perder expressão, durante o ano anterior, e este ano tem sido muito mais calmo. A que se deveu esta diminuição da contestação social? De acordo com o sociólogo Miguel Cabrita, a maior justificação para esta situação é a forte tendência dos portugueses para a não participação em tudo. Além disso, o facto de a contestação só ter resultado num sucesso poderá, também, ter contribuído para o desinteresse e consequente diminuição dos protestos.
Contudo, esta diminuição de protestos a que se tem assistido nos últimos tempos em Portugal está longe de ser a tendência. Parece que o espírito de protestos veio para ficar. Segundo um estudo do investigador John Beieler, que criou uma visualização de cada protesto no planeta desde 1979, este espírito explodiu na década de noventa e é cada vez maior.
Afinal de que vale este espírito de protestos? De acordo com a politóloga belga, Chantal Mouffe, a contestação social leva a uma “renovação constante” da própria democracia. O professor de Ciências Sociais da Universidade de Wollongong, Brian Martin, vai mais longe, dizendo que os protestos têm sido um instrumento fundamental para forçar a introdução da maioria das liberdades que hoje existem nas democracias liberais.
Protestar é, então, a solução ideal para ajudar as populações? A verdade é que independentemente dos resultados dos protestos, a indignação e o descontentamento expresso acaba por não deixar ninguém indiferente. Cada vez mais, os protestos ecoam nos ouvidos da sociedade e dos governantes, não deixando, pelo menos, esquecer as queixas e a revolta de cada protestante.