O que é habitual, quando se lê um livro que se gosta é recomendá-lo, passar a mensagem, passa-lo a outro leitor para que este continue o seu caminho de crescimento e expansão. Não é o que vai acontecer com este meu texto, não pretendo recomendar este livro apenas assinalar a sua existência, obviamente que os interessados em lê-lo devem fazê-lo, sem qualquer restrição nem se devem sentir intimidados pela minha “não recomendação”.
O que se passa com este livro pequeno e estreito é a complexidade do seu conteúdo. É um livro que não é para todos, é um livro que se encontra e não que se procura. Confesso que com esta premissa em mente, fiquei na dúvida se deveria partilhar a minha experiência com ele (eu que não procurei este livro, mas acabei por encontra-lo), conclui que sim, é um conteúdo rico e extremamente interessante, ainda que complexo e nem sempre fácil de entender. É preciso refletir profundamente sobre todos os princípios que o Caibalion partilha connosco.
Este é um livro esotérico sobre os Princípios Herméticos (que são 7) sistematizados e que afirmam conter a essência dos ensinamentos de Hermes Trismegisto, tal como eram ensinados nas escolas herméticas do Antigo Egito e da Grécia. Do ponto de vista prático o livro está muito bem organizado e é claro na sua exposição, no entanto o conteúdo é extraordinariamente complexo porque a cada página nos faz parar para pensar sobre o que está ali descrito. Os autores pretendem que quem tem contacto com estes princípios não seja apenas um leitor passivo mas um guardião do conhecimento, um discípulo e um professor. O saber guardar e transmitir a mensagem para quem esteja aberto a recebê-la e acima de tudo a entendê-la.
Esta obra introdutória traz ensinamentos e postulados do antigo hermetismo, comentados e explicados para uma nova era e um novo público, por isso se sentem tão atuais. Este Caibalion é mesmo um fruto de nosso tempo, porém refere-se a “outro Caibalion, bastante mais antigo e oculto, que se perdeu nos anais da história, mas que se encontra preservado nas mentes e nas almas de todos aqueles que não deixaram morrer a chama” (citação da nota de apresentação introdutória). Quando se começam a folhear e ler estas páginas, percebe-se claramente isso, eis um livro que nos ensina coisas que já sabemos mas que não sabemos de onde veem, que nos traz à memória saberes que julgávamos perdidos ou esquecidos e que nos ensina coisas novas.
Os princípios descritos e debatidos o livro fazem-nos pensar muito nas questões atuais. Ainda que o está escrito no livro seja uma lição, se transferirmos os ensinamentos para os nossos dias percebemos claramente que a questão do género, a ausência de género ou definição de um novo género, que hoje é amplamente debatida não faz sentido. Acima de tudo temos de respeitar a natureza como ela é, e na natureza existem dois géneros o masculino e o feminino, existem sempre polaridades que se complementam e que se agrupam para gerar vida. Do ponto de vista físico e natural é assim, e só assim é possível sobrevivermos. A nossa complexidade e necessidade de reenquadrar tudo de forma aceite é que nos leva a alterar as leis naturais. O importante, é sabermos respeitar a essência das coisas e se a nossa essência pede reajuste, devemos fazê-lo em nós e não obrigar todos os outros a aceitar o que não é “natural” mas que acima de tudo deve ser RESPEITADO, são coisas diferentes. (E um longo debate que isto daria!)
“Acaso deseje tornar-se um jogador no tabuleiro do xadrez da vida, e não uma mera peça a ser movida pelas circunstâncias e influências externas, este pequeno livro cheio de luz pode ser o seu guia nas noites mais escuras.” Depende de cada um de nós, aceitar ou não o desafio.
O Caibalion – Filosofia Hermética de Três Iniciados
Tradução: Filipa Aguiar
Edição: Marcador, março de 2019
isbn: 9789897543951