Fast Information (?)

O gesto, outrora puxando folha após folha, é cada vez mais o teclar de um endereço no cabeçalho do browser aberto. O olhar, que nessa mesma hora (e tempo) se atirava furtivamente às “gordas” como que perscrutando e filtrando quais os factos meritórios de mais demorada atenção, cai agora no ecrã à procura dos links, que por obra do hipertexto vão relacionando a estória com a causa, cuja consequência se antevê e com outras causas se há-de relacionar.

Os jornais, esses tais de outrora, já não são (só) sinónimo de publicações impressas. Agora são precedidos do termo web, ou ostentam na denominação o sobrenome online. O que, por si só, não constitui facto extraordinário, ou não estivéssemos envoltos nas teias da Internet, senhora soberana que comanda a Era do Digital. A novidade – que se disso não faz notícia, pelo menos muita discussão tem gerado – recai na mudança de paradigma dos órgãos de comunicação social, nomeadamente dos jornais.

Antes de qualquer outra análise que sobre as mudanças estruturais possa recair, há o problema prático, que talvez até, possa ser tomado por propulsor dessas mesmas mudanças, em muitos aspectos, revolucionárias: o declínio do modelo de negócio até então vigente. Com a possibilidade de, através de alguns cliques na World Wide Web, estar a par dos acontecimentos à escala mundial, as vendas dos jornais registaram quedas significativas, o que se reflectiu no decréscimo das receitas publicitárias e nas verbas disponíveis para o cumprimento do jornalismo imparcial e independente. Dados da Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação, datados de 2012, revelam que, na última década, as vendas dos semanários registaram quebras de 39%. A adaptação da imprensa aos novos canais e plataformas que prometiam o acesso à informação de forma universal e em tempo real foi, por isso, o único caminho viável a percorrer. Mudança que, numa primeira fase, muito mais não foi do que a transposição do formato impresso para uma plataforma online. Ganhou vantagem neste campo quem cedo percebeu que as tendências de consumo de informação na Era Digital respondem a outras necessidades que não apenas folhear um jornal impresso, página após página, até encontrar a informação desejada. No aqui e agora que a sociedade do século XXI tem urgência de viver, impera a informação compacta, rápida e directa, que se materialize por força de “expressões-palavras-chave” que o interesse, ou a actualidade ditam.

Ei-los que se multiplicam – os novos media – assim chamados para que se perceba a prévia existência de um tempo em que a invenção da imprensa de Gutenberg, tornou possível a escrita e publicação dos factos transformados em notícias. As profecias de que a imprensa não resistiria à rádio e depois à televisão, tornaram-se quase derradeiras quando os media se vestiram de Internet. E quem assim não o profetiza, assim o questiona: O papel vai acabar? Os jornais impressos vão falir? A folha vai dar lugar ao ecrã? A informação online vai ser gratuita, ou paga?

André Macedo, director do jornal Dinheiro Vivo, não tem dúvidas. “Aquilo que define os jornais não é o papel, é serem escritos. Dentro de cinco a dez anos, será nas aplicações para os tablets e smartphones e num modelo 100% pago que o jornalismo vai subsistir e desenvolver-se de forma fantástica”. Convicção em muito sustentada pelo facto de, nos Estados Unidos da América existirem já exemplos de jornais e revistas que vão acabar com as edições impressas para apostar no online. O caso mais conhecido é o da revista Newsweek, mas há também a revista SmartMoney, ou o diário The Times-Picayune, o único da cidade de Nova Orleães, que passou a ter apenas três edições por semana, concentrando-se no seu site. Já para o Luís Mergulhão, presidente da agência de meios OmnicomMediaGroup, “o papel existirá sempre, caso contrário seria como se comêssemos uma fruta, sem ter olfacto, tendo apenas o sabor”.

No entanto, se o benefício for dado à virtude, que por adágio popular se diz estar no meio, então, João Palmeiro, presidente da Associação Portuguesa de Imprensa (API), não poderá estar longe da verdade, quando sustenta que o futuro dos meios de informação está no “mix entre o papel e o não papel, entre conteúdos gratuitos e fechados”. Um prognóstico também suportado por Pedro Santos Guerreiro, director do Jornal de Negócios – que nasceu no online e só depois foi para o papel –, que acredita que vai ser possível combinar as duas plataformas, embora admita que as grandes audiências estarão no online e o consumo no papel será mais lento.

Será?

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