Quando for a idade da reforma, como serão os Millennials?

Perguntaram-me há uns tempos, numa entrevista de emprego, se possuía carro. “Desculpe a pergunta, mas é que hoje em dia os jovens que temos entrevistado não parecem sequer pensar nisso. Já não é tão comum, como no meu tempo, percebe?”

Na volta para casa, de metro, a questão continuou na minha mente. Aquele cargo não exigia uma deslocação por aí além, talvez uma vez por mês, se tanto, então, por que razão surgira aquela pergunta por parte do entrevistador?, pensei eu. Após alguma reflexão, percebi que, talvez, quisessem entender que tipo de responsabilidades tem uma pessoa como eu, uma millennial, que se candidata aquela vaga, naquela empresa, com o objectivo de verificar se eu tinha, ou não, capacidade para absorver determinadas responsabilidades. Afinal de contas, ter um carro assim o exige: há que verificar o depósito do combustível (e alimentá-lo), o depósito da água, o nível do óleo, a pressão nos pneus, renovar o seguro, pagar o imposto único de circulação e por aí fora. Não parece muito complexo, mas exige alguma responsabilidade e comprometimento. Não nos podemos esquecer das datas de revisão, nem dos documentos do carro, nem de pagar as scouts. Talvez sejam assuntos pouco relevantes para as outras gerações, mas tenho percebido, cada vez mais, que existe uma certa resistência ou, talvez, falta de agilidade em ter este tipo de responsabilidades pela nossa parte, os millennials.

estudos, artigos, infografias ou opiniões que focam precisamente o comportamento dos que nasceram entre o início dos anos 80 e os finais da década de 90 (se bem que este intervalo não é consensual, já que uns consideram “millennials” os que nasceram entre 1982 a 2002; outros falam de 1980 a 2000 e outros ainda consideram o intervalo 1980 a 1996) e que, de uma forma geral, falam de uma geração que valoriza a experiência, sem sentir necessidade de possuir um produto. Salvo as excepções, obviamente, dizem que os millennials preferem gastar o seu dinheiro em viagens ou apostar na sua formação através de workshops, do que propriamente comprometerem-se com a compra de um carro ou de uma casa. Dados que, cada vez mais empresas consideram importantíssimos, não apenas em termos de gestão de recursos humanos, mas também a nível das tendências da indústria nas várias áreas de negócio. É necessário saber o que gostam, o que querem adquirir, como se comportam, o que desejam e como vive esta geração Y. Contudo, mais importante, é perceber qual o seu futuro, por onde querem ir? O que pretendem fazer nas próximas décadas? Como vêem o dinheiro, o trabalho, o lazer, a família? Como querem que seja o seu futuro?

Dizem-se poupados, não recorrendo tanto ao crédito para adquirir um imóvel ou mesmo para o investimento de um negócio. Adiam a tomada de decisões importantes e, no mercado de trabalho, têm necessidade constante de mudança, querendo perceber o real significado do seu papel dentro das organizações. Na generalidade, os millennials focam a sua atenção para o bem-estar da sociedade e agem de acordo com uma visão mais flexível e optimista em relação ao mundo que os rodeia. Por outro lado, dizem que esta geração irá chegar aos 40 com muito menos riqueza acumulada do que as gerações anteriores. E, ao contrário da geração dos seus pais, que adquiriam um emprego para a vida, compravam uma casa, constituíam uma família e, na velhice, viveriam da reforma, os millennials parecem não ter a mesma perspectiva, aliás, vivem uma vida mais volátil, em todas as áreas. Acredito que se preocupem com a idade da reforma e, na verdade, nada garante que esta seja uma realidade ou, mesmo que exista, talvez a idade com que se reformem possa aumentar.

No entanto, podemos observar que os millennials têm uma maior predisposição para trabalhar em diferentes áreas de especialização, têm mais vontade em expandir horizontes, quer através da emigração ou mesmo das viagens esporádicas, têm maior consciencialização em relação ao consumo, têm menos aversão pela mudança e isso pode resultar em sociedades mais ecléticas e abertas à diferença, mais tolerantes e mais conscientes em relação ao planeta onde habitam. No fundo, apesar de todos os “atrasos” na chegada à idade adulta, esta geração tem uma perspectiva optimista em relação ao seu futuro.

Ainda assim, o grande sucesso dos millennials, no meu suspeito ponto de vista, é e será conseguirem, através da colaboração, atingir soluções globais. Isto é, a capacidade, as ferramentas e a predisposição que a geração Y detém são inigualáveis a qualquer outra geração anterior: podem unir-se por uma causa, a qualquer momento, no terreno ou à distância; podem conectar-se com todos aqueles que partilhem do seu ponto de vista e resolver um problema de uma forma mais rápida. E isto, claro está, pode ser utilizado para todo o tipo de causas, mesmo as mais indesejáveis, contudo, parece-me que toda a gente está mais preocupada com o futuro dos millennials do que eles próprios.

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