O brilho da coragem

Em pequeno tinha todos os sonhos do mundo. Penso que como a grande maioria, deduziamos na altura que a espada que carregavamos iria conquistar o mundo. Eu queria ser o melhor jogador de futebol. Eu queria ser o melhor piloto da força aérea. Eu queria ser o policia que defendia o mundo de todos os ladrões. Eu queria ser o carteiro da verdade. O instrutor da sabedoria. O vendedor que entregava amor. O capitão que distribuia afetos. Mas esta dedução de mudança é acompanhada por aqueles que por um lado nos empurram para a frente e por outro, existem aqueles que nos pregam rasteiras.

Deparamo-nos durante esse nosso crescimento, com os misericordiosos e com os miseráveis. Há uma espécie de luta entre o que podes realmente fazer e ter. E entre o que não podes fazer e muito menos ter. Com isso as conquistas, vão-se encurtando,  bem como os sonhos. Há uma vida a ser feita ainda que haja um sonho desfeito. Entre a ideia de sonhar ser e ter, a liberdade de voar sobre um ninho de conquistas, vemo-nos privados por contingências da vida.

Limitamo-nos apenas ao prazer de estar e construir um ninho, onde nos possamos sentir minimamente felizes. Dormindo sobre um sonho de frustrações que definem as nossas inaptidões. A espada dos sonhos da conquista é transformada num punhal que se revela mortal. Ficamos mais pequenos, mais cansados, mais frustrados e desregulados. Percebemos que  menos sonhos equivalem também mais frustrações. Maldita vida, deduzimos nós que não nos deixou manter o botão dos sonhos ligados.

Escolheram-nos para o trabalho errado na hora que necessitamos. O pão na mesa é necessário. As bocas a alimentaram ecoam pela necessiade de se manterem vivas. Não é mais um sonho. É sobrevivência. Pegamos na nossa lancheira e juntamo-nos nos transportes aos milhares que outrora tinham a sua espada pronta e hoje carregam o punhal das limitações encontradas. Olhamos uns para os outros, tentanto encontrar culpados. Tentanto encontrar esse buraco negro na galáxia que nos levou o sorriso, a vontade, a força e parte da dignidade. Mas há uma imagem no meio da perdição dos sonhos e enorme coragem.

De luta por um prato na mesa. De luta pela manutenção de uma familia. Há um não à desistência e um sim à manutenção. Não a uma manutenção de subserviência e sim de humildade perante os factos que se apresentam à nossa frente  Não uma manutenção de abandono dos sonhos. Deduzimos muitas vezes: “Que merda! Onde está a vida que eu desejava?”.

Mal pagos, mal nutridos, desmotivados, descompensados, ligamos o botão da imitação. Seguimos o povo dos sonhos perdidos. Entendemos muitas vezes que a luta por esse sonho deixa de existir. Não entendemos muitas vezes que essa desistência, junto do povo que segue com a sua lancheira é também a morte em nós. É o não à vida. À vida do ser que quer sonhar e não vê forma de ousar. Como conseguir lutar pelo que queremos alcançar? Repara: Não é o teu sofrimento que brilha. É a tua coragem que trilha…

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