Desde que foi lançando em 1979, o Mercedes Classe-G tem estado, a par dos Range Rover, entre os melhores todo-o-terreno. O brilhante sistema de tracção ás 4 rodas e o uso de redutoras, transforma qualquer obstáculo num ligeiro incomodo. Ao longo dos anos a Mercedes tem actualizado o Classe-G, maioritariamente a nível de interiores e de carroceria, sendo que em termos mecânicos, só existiram alterações quando se justificava. Excepto em 2013 quando apresentou o Mercedes G63 AMG 6×6 e, em 2015, quando apresentou o Mercedes G500 4X4 2 (a versão de 4 rodas do Mercedes G63 AMG 6×6). Em ambos os casos, alguém deixou os engenheiros sem supervisão durante 30 segundos e quando voltou os loucos tinham tomado conta do asilo.
Foquemo-nos no G500 4×4 2, durante um bocadinho. A grande diferença deste modelo para os restantes Classe-G é o facto de fazer uso dos eixos pórticos (portal axle), uma configuração off-road que aumenta a distancia ao chão. No caso do G500, são exactamente 41 cm de altura. A estes juntam-se 2.2 metros de altura, 2.1 de largura, a capacidade de atravessar águas até um metro de profundidade e um V8 de 4 litros e 420 cavalos de potência. Mais o sistema de tracção as 4 rodas as redutoras. Portanto, dizer que o G500 4×42 ultrapassa obstáculos sem dificuldade é dizer pouco.
Quando, em 2014, a Mercedes apresentou o Mercedes-Maybach S600, começaram a correr logo rumores de que poderia haver um SUV com a luxuosa insígnia. Nada de concreto, pode ser um SUV, pode ser outro carro. Vimos aparecer o S650 Cabriolet e perdemos a esperança. Isto até as imagens do G650 Landaulet terem aparecido na net. Tendo por base o Mercedes G500 4X42, o G650 é quase igual exteriormente. Continua a apresentar os mesmos arcos das rodas alongados e em carbono, os mesmos eixos pórticos, e o mesmo aspecto e capacidade off-road que o G500 4×42 apresenta. Isto conclui as semelhanças. Vamos ás diferenças.
Estamos a falar de um Maybach, portanto, sai o V8, essa configuração plebeia, e entra o nobre V12. Mais uma vez, a Maybach faz uso do bloco dos modelos 65 da AMG, isto é, o G650 apresenta um V12 biturbo, de 6 litros com 620 cavalos de potência e uma caixa automática de 7 relações. Só o barulho do V12 é capaz de nos deixar com um sorriso de alegria na cara. A Maybach também afinou ligeiramente a suspensão para tornar a viagem mais confortável para os ocupantes, afinal estamos num Maybach. Mecanicamente são estas as diferenças.
Felizmente os engenheiros não ficaram por aí. O G650 é cerca de 60 cm mais comprido que o G500 4×42, ou seja, toca os 5.3 metros de comprimento. 60 cm esses que foram todos para a traseira para conforto dos ocupantes traseiros, transformando-o numa verdadeira limousine. Aliás a cabine traseira é igual á do Mercedes-Maybach S600. Isto não é bem assim, desculpem. Sim, há os bancos individuais reclináveis, a consola central com as mesas de escrita, os dois ecrãs de 10 polegadas, uma divisória a separar as cabines e todos os luxos a que temos direito. O que o G650 tem, e que mais nenhum carro se pode gabar de ter é uma capota. Uma capota que cobre só os ocupantes traseiros. O G650 é um landaulet, isto é, enquanto o motorista vai tapado pelo tejadilho de metal ou ocupantes traseiros vão a apanhar banhos de sol. E essa capota torna-o só no mais luxuoso dos Classe-G. E com o futuro Classe-G já a caminho é a perfeita despedida de um modelo icónico.
Ora, tanta potência e tanto luxo tem de ser exclusivo. Serão feitas exactamente 99 unidades do G650. E a um preço para cima dos 700 mil euros o provável é que já todas as unidades estejam vendidas. Pessoalmente tenho sentimentos conflituosos sobre este G650. Se por um lado a mecânica e o luxo me captivam, por outro, a capota afasta-me. No entanto para mim, o pior é saber que esses 99 felizardos não irão usar o G650 como um verdadeiro off-roader, mas sim como um meio de transporte dentro da cidade quando ele é para ser usado em terra ou areia, na savana de África ou nos desertos da Arábia.