Talvez você seja a primeira pessoa a quem essas palavras chegam… e acho difícil pensar que sem saber seu nome, sua idade ou onde você está no mundo, nós coincidimos tão “casualmente” aqui.
Embora tenha levado semanas para decidir escrever estas linhas, ainda não sei como descrever o que começou há alguns anos – acho que cinco -, quando os meus pensamentos, exaustos de saltar entre quatro paredes, encontraram o caminho para fora, naquela tarde em que olhei por uma janela de casa e senti aquela onda de realidade.
Porquê lá? Porquê naquele momento? Não sei, mas soube naquele instante que a minha vida não poderia passar diante daquele vidro e que devia haver outra coisa. Algo que ninguém me falava ou que pelo menos eu não pude ouvir, devido ao alvoroço dos meus próprios preconceitos.
Era em cada pequena viagem, ao caminhar por cidades sem nome, que encontrei nas conversas com pessoas anónimas respostas às minhas dúvidas, em cada comida típica um novo sabor e, nos silêncios daquelas paisagens, tantos “gritos de verdades” que acabaram perfurando a minha armadura.
Compreendi que viajar, mesmo por poucos quilómetros, me empurrava ainda mais para aquele êxodo interior, uma peregrinação introspectiva que não me poderia limitar a pensar só como “férias”. Foi com o tempo que não era suficiente apenas olhar para o horizonte, tinha que fazê-lo como um ritual constante, porque aquele caminho fora da minha zona de conforto sempre me ensinava o meu verdadeiro interior como ninguém.
Por aquelas alturas, místicas esse tango mental se transformou em viagens a rincões da Argentina, Bolívia e Peru, de onde voltei ainda pior (ou melhor). É que, depois de cada experiência, algo tão quotidiano como viajar de autocarro ou ser surpreendido por um aroma familiar longe de casa revelava-me um novo significado a tudo o que eu tinha esquecido de valorizar. Estou a falar daquela individualidade corrosiva irremediável, entende? Aquela que nos faz entrar na solidão mais usurária, preenchendo as ausências com outras coisas. As que se compram, atribuindo um valor-felicidade ao alcançá-los.
No fim, entre coisas, casas ou viagens, isso que tanto almejamos ter aumenta num peso desnecessário que acaba por nos ancorar a um lugar e a uma vida que talvez não seja a que realmente queremos.
Está longe do objetivo deste artigo descobrir a alquimia para a felicidade ou o sentido da vida, mas sabe uma coisa? Suspeito que “ela” acontece nos momentos de alegria e o que fazemos entre um e outro será decisivo para valorizá-la.