O mundo está em constante mutação e com ele as espécies que o habitam. O homem tem vindo a adaptar-se a tais alterações, muitas vezes por ele provocadas, e são os animais que mais sofrem com estas mudanças por não terem a mesma capacidade de adaptação e, consequentemente, de sobrevivência. Em casos extremos, assiste-se à extinção de espécies, sendo que em Portugal já se contam três casos em risco elevado de desaparecimento do nosso território: o Lince Ibérico, a Águia-Imperial Ibéria e o Saramugo.
O Lince Ibérico é um felino que vive apenas em Portugal e Espanha, sendo que em Portugal tem os dias contados. Recentemente, a União Internacional de Conservação da Natureza (UICN) classificou-o como “criticamente ameaçado”, dado que a sua reprodução depende apenas de duas populações que estão isoladas entre si, mas que, ainda assim, não seriam suficientes para a espécie sobreviver. Por cá, os últimos 30 anos de incêndios, que destruíram os seus habitats, combinados com uma epidemia que assolou as suas presas resultaram numa combinação mortal de linces.
Com o objectivo primordial de inverter esta situação, tem-se vindo a apostar na preservação dos que ainda existem em solo português. Assim, tem-se promovido a gestão territorial, incentivando-se os proprietários de terrenos em espaços naturais a acolherem esta espécie. Outras medidas compensatórias tais como a construção da Barragem de Odelouca (Algarve), o Centro Nacional de Reprodução do Lince-Ibérico (Silves) e o programa de criação em cativeiro têm vindo a ser implementadas, sendo que a última parece estar a ser bem sucedida com o nascimento de algumas crias. Contudo, apesar dos esforços para contrariar a classificação da UICN, a situação é ainda delicada.
Relativamente à Águia Imperial-Ibérica, classificada como a ave de rapina mais ameaçada na Europa, é também a mais sensível à manipulação ambiental humana. A proliferação dos parques eólicos, o abandono da agricultura pecuária tradicional bem como a contínua caça a uma espécie que se sabe ameaçada estão entre as principais causas para que esteja em vias de extinção. O facto de durante muitos anos não ter nidificado em Portugal, não ajudou à sua situação. Estima-se que existam entre 2 a 5 casais, num máximo de 10 representantes, ao contrário da vizinha Espanha, que conta com aproximadamente 240 casais. A grande disparidade deve-se aos programas e políticas de conservação que são aplicadas em Espanha e que em Portugal são inexistentes. Não honramos o compromisso com a União Europeia no que toca a estes projectos nem tão pouco existem políticas de investimento público que visem a conservação de espécies criticamente em perigo, o que se torna lamentável em espécies exclusivas portuguesas.
O Saramugo é um dos casos lamentáveis pois é peixe exclusivo português, que habita no rio Guadiana. A grande seca de 2005 afectou o seu habitat, que estava resumido a poças. O Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB) teve um papel fundamental na sua salvação quando iniciou a sua recolha e, actualmente, os mantém em cativeiro com vista à sua procriação. Infelizmente, o cativeiro parece ser insuficiente uma vez que o Saramugo necessita de água corrente e de leitos com seixos para a desova e, para piorar a situação, é peixe cujas características lhe atribuem entre 3 a 4 anos de vida. Com vista a combater a situação de espécimes como o Saramugo, a World Wide Fund (WWF) desenvolve planos de acção com base na sustentabilidade das florestas e a recuperação dos habitats dos animais criticamente ameaçados. Após os incêndios de 2004, esta associação recorreu à plantação de espécies nativas, repovoando assim as encostas para que a erosão não assoreasse a ribeira e continuasse a danificar o seu habitat.
Existem espécies que estão presentes em Portugal, não porque seja país activo na sua preservação, mas porque goza de protecção dos Pirenéus, que lhe confere um ecossistema de eleição para viverem. Muitas delas chegam a ser únicas no mundo, o que, por si só, deveria ser mais do que motivo para uma maior consciência ambiental, para sairmos da sombra dos Pirenéus e criarmos planos de acção que evitem que um dia as suas casas sejam as páginas dos livros da especialidade a contarem a história de seres que um dia foram mas que hoje não existem mais.