A utopia da igualdade

Vivemos em pandemia há mais de dois anos.

Recuemos ao natal de 2019. Por essa altura ouve-se falar, pela primeira vez, do coronavírus. Na China! «Chinesices». Ninguém valorizou.

Quis o acaso (ou não) que a «chinesice» nos mudasse a vida.

A 2 de Março de 2020 são anunciados os primeiros dois casos de COVID, em Portugal. Daí até ao confinamento obrigatório e restrições de circulação na via pública foi um sopro.

Ninguém estava preparado para o pacote de restrições anunciado: crianças em aulas à distância, teletrabalho, recolher obrigatório, comércio fechado, redução de contactos, entre outras regras.

Um dos primeiros impulsos da população foi a corrida desenfreada aos hipermercados, embora continue sem entender o açambarcamento de papel higiénico.

O pesadelo caía na maioria das casas portuguesas. «Como se vive quando nos amputam o sustento?»

Apesar de muitos continuarem a trabalhar e receber os vencimentos sem alterações; outros foram obrigados a parar. As ajudas do estado ficaram aquém das necessidades reais de muitas famílias.

O confinamento veio, de alguma forma, acentuar as diferenças entre classes. Assistimos ao dissolver da classe média após um ano de pandemia.

Os desempregados perderam a oportunidade de procurar trabalho. Os comerciantes foram forçados a fechar os seus negócios sujeitando-se a esmolas dadas pelo Governo (nem todos), os ricos estavam no alto a bater palmas. Viram na pandemia a nova máquina de fazer dinheiro.

Desde as máscaras aos géis venha o freguês e escolha. Houve para todos os gostos e carteiras.

Não bastava o medo semeado na cabeça das pessoas, a insegurança num futuro tremido e ainda roubavam com consentimento desinformado.

Para completar o pacote, o povo calava e não reclamava, porque em confinamento não eram permitidas manifestações. Um descanso para o Estado de pernas bambas. Sim! Não deve ser fácil gerir um país em pandemia, mas já diz o povo atento «muito bem fala o são ao doente, porque nada lhe dói».

Apesar do controlo nem todos cumpriram as regras por revolta, descrença ou ignorância.

O confinamento cozinhou em lume brando a indignação que sentiam. E, nas primeiras oportunidades, ouviu-se a voz de desespero a ecoar em pequenos manifestos.

A taxa de suicídio aumentou em período pandémico.

Quem nada tinha a perder ou tudo mantinha, não desesperou. No entanto, quem perdeu parte de uma vida de trabalho, cedeu ao desespero.

Lentamente caminhamos para a riqueza absurda e pobreza extrema. Dois polos opostos com um vácuo entre eles: a classe média, em vias de extinção.

O nosso inimigo tem a decência de não se deixar encantar por crenças, raças, contas bancárias ou clubismos. Ataca aleatoriamente e, apesar de assustador, mostra que somos todos iguais nas nossas diferenças.

Uma lição que deixa marcas profundas em cada um de nós.

Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Antigo Acordo Ortográfico

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