“Nada ilustra melhor o que tem acontecido do que o apuro que vivem os que hoje têm vinte e poucos anos. Em vez de iniciarem uma nova vida, cheia de entusiasmo e esperança, muitos deles confrontam-se com um mundo de ansiedade e medo. Esmagados com o custo dos estudos e empréstimos, que sabem lhes ir custar muito a pagar e que não se reduzirão mesmo que se declarem insolventes, procuram empregos num mercado de trabalho disfuncional. Se tiverem sorte de encontrar um emprego, os salários serão um desapontamento, na maior parte das vezes tão baixos que terão de continuar a viver com os seus pais.”
Não, não estamos a falar de Portugal, mas parece que cada palavra se encaixa na realidade em que o país se encontra actualmente. Quem escreveu essas palavras foi Joseph Stiglitz – prémio Nobel da Economia –, no seu livro The Price of Inequality, e estava a falar sobre os Estados Unidos da América (EUA).
Apesar do autor referir-se aos jovens, as outras gerações não estão melhores, mas, para já foquemo-nos apenas nos jovens. Aqueles que gastam de três a cinco anos para tirarem um curso superior, ou qualquer outra formação. Aqueles cujos pais fazem um esforço tremendo para pagar estes estudos. Curiosos no início das suas vidas académicas. Entusiasmados até. Um entusiasmo que, com o tempo, esvazia-se, quando vêem os números do desemprego, ou mesmo os valores dos salários (a média salarial que os jovens recebem actualmente, segundo o Jornal de Negócios, é de 515 euros por mês, quase o salário mínimo nacional).
“Que mundo tão parvo,
Onde para ser escravo é preciso estudar.”
(Deolinda “Parva que sou”)
O jornal Expresso compara os salários mínimos europeus com a média do salário mínimo nacional. Afirma que, quando olhamos para “a evolução dos salários mínimos na União Europeia (UE), durante o período da crise, percebe-se que Portugal afastou-se da média europeia, entre 2009 e 2014”, apesar do aumento do salário mínimo para os 505 euros (depois de quatro anos de estagnação). O jornal Público afirma até que o nível de vida retorna ao nível de 2011.
Um mercado de trabalho “disfuncional”, como o autor o chama, devido a uma crescente desigualdade salarial, por exemplo. As reformas laborais, que visam um mercado de trabalho mais flexível, com maior facilidade de criar emprego, criaram estes empregos, porém, em muitos casos substituindo empregos mais bem remunerados por outros com salários mais baixos. O part–time parece ter entrado mais em voga actualmente e o trabalho a recibos verdes também. Ou seja, novas formas de contratação. Também os constantes cortes salarias da função pública e das reformas, contribuem para a desigualdade salarial e, consequentemente, social.
Disfuncional também, porque, apesar dos salários baixos, é difícil encontrar uma porta aberta para conseguir entrar no mercado de trabalho, mesmo com o retorno monetário cada vez mais baixo. Parece um ciclo vicioso. Os anúncios de emprego pedem (quase) sempre pessoas com experiência profissional. Mas onde se adquire esta experiência entretanto?
O problema não são só os salários. O custo de vida desempenha também um papel importante. O aumento de IVA de 21 para 23% em 2010, o aumento de IVA na restauração e de vários produtos que anteriormente pagavam uma quota mais baixa para este imposto, os constantes aumentas das rendas das casas, as novas tarifas da elcetricidade, ou da água, até mesmo do café, ou do pão. Tudo isso faz com que seja cada vez mais difícil um jovem começar uma vida nova fora da casa dos pais. Por isso, viver com os progenitores é cada vez mais comum e é cada vez mais difícil começarem as suas próprias famílias.
Os jovens de hoje, aqueles que foram intitulados como a “Geração à Rasca”, são o país de amanhã. Desilusão, revolta e frustração. São estas as palavras que os acompanham, quando procuram trabalho, muitas vezes obrigados até a saírem do país para encontrar o que este não lhes pode oferecer.