A publicação britânica Times Higher Education (THE) divulgou o “World Reputation Rankings 2014”, a mais respeitada avaliação de universidades do mundo. Os Estados Unidos da América (EUA) dominam este ranking mundial, com oito universidades entre as dez melhores. Para além de Harvard e do MIT, Stanford subiu do sexto para o terceiro lugar. A Universidade de Princeton manteve-se em sétimo. Já a Universidade da Califórnia caiu da quinta para a sexta colocação, em Berkeley, e da oitava para a décima, em Los Angeles. A Universidade de Yale subiu da 10ª posição para a oitava, e o California Institute of Technology da 11ª para a 9ª. Porém, a realidade é completamente diferente, quando olhamos para os jovens estudantes norte-americanos e para o seu desempenho nas provas PISA.
O PISA é uma prova promovida junto dos países que compõem a OCDE e outras economias emergentes, este exame é realizado por jovens de 15 anos em mais de 70 países/economias. Mais do que um teste aos conhecimentos matemáticos, científicos e literarários, é um exame que combina também factores de rendimento, protecção da criança, sistema de saúde, organização escolar e a escola como posto de trabalho. O PISA tem uma periodicidade trienal e tem ajudado a caracterizar o sistema de ensino nos países e influenciado as decisões tomadas sobre o ensino.
Este exame revelou que a grande potência que são os EUA tem falhas no sistema de ensino a nível do fim de ciclo preparatório. Os adolescentes norte-americanos têm demonstrado um nível medíocre em comparação com o estatuto económico do país. Segundo este programa, “os estudantes nos EUA estão muito satisfeitos com a sua escola e olham para a relação que têm com o seu professor de forma positiva. No entanto, eles não têm a mesma motivação no que toca a aprender matemática: apenas 50% dos estudantes demonstram ter algum tipo de interesse em aprender matemática, estando ligeiramente da média da OCDE, que está nos 53%:”
A educação e o fraco desempenho dos estudantes faz parte da agenda política dos Estados Unidos da América desde 1958, existindo o entendimento de que é necessário capacitar os jovens de forma a prepará-los para um mundo cada vez mais competitivo. Muitas foram as medidas tomadas na tentativa de relançar a educação e preparar melhor os jovens. Uma preocupação que é visível no relatório “Uma Nação em Risco”, elaborado pela administração Reagan, ou num dos grandes objectivos que Bill Clinton traçou no seu primeiro mandato: uma América onde o ensino atingisse padrões internacionais. “Ter a melhor educação possível nunca foi tão importante como agora e isso deve-se ao facto de, no mundo de hoje, ser um local em que um bom trabalho só é possível de ter caso se tenha uma boa educação. Eu viajo por todo o país, já fui a fábricas e a empresas multinacionais e não interessa onde se trabalha, se não tivermos uma boa educação, não seremos capazes de sermos bem-sucedidos. Isto também se aplica aos trabalhadores que só têm de manobrar máquinas em fábricas, porque a maioria dos equipamentos actualmente são muito avançadas tecnologicamente falando”, referiu Obama num discurso.
O desempenho nas provas PISA levaram a administração Obama a reformular o sistema educativo do país, na tentativa de melhorar a prestação dos seus estudantes e prepará-los melhor para um mundo mais competitivo e exigente. “Nós sabemos que a Educação tem de começar o mais cedo possível”, refere Obama, no seu discurso sobre o orçamento para a Educação na Escola Elementar de Washington. “Nós sabemos que, apesar de nem todos os bons trabalhos necessitarem de um curso superior, a grande maioria deles irá necessitar alguma forma de educação superior, ou técnica.”
Num estudo promovido pela Universidade de Harvard, este tema é abordado em cerca de 50 páginas. O estudo que disseca esta temática, elege Portugal como um caso de sucesso, já que o nosso país encontra-se num grupo de 11 países que tem crescido a um ritmo impressionante e que representa uma evolução equivalente a 2 anos de aprendizagem. O professor de Harvard, Jan Rivkin, analisou estes dados e concluiu que “os resultados dos EUA em termos de leitura estão iguais aos de 2009, enquanto as pontuações da Bélgica, da Estónia, a Alemanha, a Irlanda, a Polónia e outros países melhoram e chegam até a ultrapassar-nos. Outros países que se encontravam atrás de nós, como a Itália e Portugal, estão a aproximar-se de nós. Encontramo-nos numa corrida nesta economia cada vez mais global. O problema não é que estejamos a abrandar. O problema é que os outros corredores estão a tornar-se, progressivamente, mais rápidos.”
Para compreendermos melhor o fenómeno PISA e os americanos, procurámos junto das investigações levadas a cabo por Dana Goldstein, uma jornalista norte-americana que tem dedicado o seu trabalho ao tema da educação, formulando problemas e soluções para esta questão. A jornalista aponta que o fraco desempenho nas provas de Matemática deve-se à fraca capacidade que os jovens têm na aplicação de conceitos abstractos em situações da vida real. Ou seja, o facto de não ser apresentada uma fórmula para que resolvam o problema é o obstáculo per se. No que toca aos exercícios de literatura, estes exigem que os alunos leiam um texto e escrevam sobre o mesmo. O problema para os estudantes norte-americanos reside na fraca capacidade de formular espírito crítico e de visionar uma situação que não esteja descrita no texto. Isto é, um ensino literário baseado na memorização e não na estimulação da criatividade e pensamento analítico.
O sistema de ensino nas terras do tio Sam é descentralizado, cabendo a cada estado estruturar o seu programa de ensino. Perante esta situação, a administração Obama tentou reformular a estrutura, propondo o Common Core, que de momento é aplicado em 45 estados. Porém, é bastante controverso este programa, tendo conhecido bastante resistência por parte dos professores, pais e alunos, que defendem a autonomia dos estados na estruturação do ensino. Este modelo de ensino standard e semi-centralizado é uma resposta que procura resolver o fraco desempenho nas provas PISA. Num artigo publicado na revista The Atlantic, Dana Goldstein diz que “o problema está em esperar pela faculdade para começar a direccionar o caminho dos estudantes, segundo os seus interesses profissionais, e o sistema educativo americano está a restringir cada vez mais jovens à pobreza. O desemprego entre os jovens nos EUA encontra-se nos 17,1%, quando a Alemanha e a Suíça têm menos 8% nesta demografia. Estas nações ligam o currículo escolar directamente com a realidade empresarial, colocando os estudantes em estágios nas empresas, enquanto estão a estudar.”
O que Dana Goldstein também advoga, apoiando-se no relatório PISA, é que os professores têm de ter maior e melhor preparação e influência e liderança dentro da escola, é também necessário alterar a estrutura de apoio aos alunos, principalmente aqueles de contextos sociais mais desfavorecidos. É ainda necessária uma maior rede de apoio fora da sala de aulas.
Desde Richard Hofstadter, que afirmou o anti-intelectualismo na vida americana, a escola mudou, tornou-se mais tecnológica, tem melhores recursos, mas essa evolução não é reflectida na performance dos alunos em testes no modelo PISA. “Um grande conjunto de problemas educacionais tem surgido, através da indiferença”, disse Hofstadter, em 1962, “professores mal pagos, salas de aula demasiado cheias, escolas com mais do que um horário, edifícios com más condições, edifícios inadequados para o ensino e um número sem fim de falhanços associados a algo completamente diferente – o culto do atletismo, das bandas marchantes, das líderes de claque, das escolas em guetos étnicos, do currículo anti-intelectualidade, do falhanço de educar sobre disciplinascomplexas, da negligência perante crianças com grandes capacidades académicas.”
O que pensas deste artigo?
