A insólita passagem de Lindbergh por Portugal

Charles Augustus Lindbergh, ícone da história da aviação mundial por ter sido a primeira pessoa a realizar um voo transatlântico, sem escalas, num avião, sozinho, entre Nova Iorque e Paris, em 1927, mal imaginava que, anos mais tarde, marcaria para sempre uma pequena localidade portuguesa. Tudo se passou há precisamente 80 anos, no dia 12 de Novembro, quando este célebre aviador se viu forçado a fazer uma paragem de emergência por escassez de combustível.

1933, Lindbergh viajava de Grenoble para Lisboa (São Julião da Barra), na companhia da sua esposa, Anne Morrow, quando foi surpreendido por uma tempestade na zona dos Pireneus, que o obrigou a gastar mais gasolina do que o planeado inicialmente. É, então, que decide procurar um local seguro para abastecer o seu hidroavião, “Lockheed”, de combustível. Quando já estava a percorrer a linha do Rio Minho avista um canal natural de águas calmas. Não havendo, até ao momento, outro local propício para fazer uma paragem de emergência, resolve amarar ali mesmo. Tratava-se de uma pequena aldeia – Friestas, concelho de Valença do Minho.

A população nada habituada a ver aviões a sobrevoarem a zona, quanto mais ver um a pousar no rio, ocorreu de imediato ao auxílio do casal. Maximino Gomes, na altura secretário da junta, foi o primeiro a chegar ao local. Na época, relatou o seguinte aos jornalistas: “ele era alto e sorridente, mas a esposa era bastante miúda e baixinha. Era pequenina, mas muito bonita”. Acrescentando que não foi difícil estabelecer diálogo, pois “ele percebia bem o português e falava o inglês”, mas mesmo assim, foi necessária a ajuda de um residente que falava a língua, que prontamente ofereceu a Lindberg uma garrafa de Vinho do Porto e a Anne Morrow um ramo de flores.

Segundo relatos da época, pouco tempo depois foi disponibilizado um automóvel para transportar o casal até à vila de Valença, onde foi feita uma “calorosa” recepção na Câmara Municipal pela Comissão Administrativa, assim como pela classe mais alta. Na rua, o povo os ovacionava. Mais tarde, após o jantar oferecido pela autarquia, regressaram ao hidroavião, acompanhados, imaginem só, pela Polícia Internacional, o comandante da secção da Guarda Republicana e alguns oficiais da canhoneira espanhola – “Cabo Fradera”.

A insólita passagem de Lindbergh por Portugal_imagem 2Durante os três dias em que estiveram nesta região minhota, pensa-se que milhares de pessoas quiseram ver de perto o famoso casal, que aproveitou para conhecer a região, inclusive, Tui, a convite das autoridades locais. Depois de abastecido o hidroavião e das condições atmosféricas já estarem reunidas, conta-se que na manhã de 15 de Novembro, pelas 10 horas, observados por uma multidão de pessoas em ambas as margens do rio, incluindo muitos jornalistas e fotógrafos, levantaram voo com destino à capital. Nas ruas da vila de Valença, nas janelas, nas varandas, nas muralhas, uma população “frenética” agitava lenços brancos.

Partiram, mas ficaram para sempre vivos no imaginário daquela pequena população nada habituada a ver uma mulher a fumar e a usar calças. Hoje, perpetuado na escultura de Alípio Nunes Vaz de Sousa, um autodidacta local, que fascinado pelo que esta personagem histórica fez pela Humanidade decidiu prestar a sua homenagem.

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