Estará o problema da educação nas diferenças económicas? Ou será uma questão de mentalidade?
Há quem diga que o problema da educação, atualmente, reside no próprio sistema. E, de facto, não faltam desafios evidentes: a ausência de evolução profissional, turmas sobrelotadas, professores exaustos e uma burocracia que asfixia qualquer tentativa de inovação. Mas esta explicação, ainda que pertinente, ignora uma força silenciosa e persistente que molda a realidade de milhares de alunos: as diferenças económicas. Talvez seja neste ponto que reside a maior desigualdade de todas.
O rendimento familiar é uma barreira invisível, mas profundamente real, que separa oportunidades e destinos dentro da sala de aula. Não é preciso um estudo aprofundado para perceber que uma criança que chega à escola com fome terá mais dificuldade em concentrar-se do que aquela que tomou um pequeno-almoço nutritivo. Que um jovem sem um espaço tranquilo para estudar – porque divide o quarto com os irmãos ou vive num ambiente instável – enfrentará mais obstáculos na aprendizagem do que aquele que dispõe de um quarto só para si, livros à disposição, um computador e, se necessário, apoio escolar privado.
É um facto que a desigualdade não se mede apenas em dinheiro, mas também no tempo e na disponibilidade das famílias para acompanhar a educação dos filhos. Claro que existem alunos carenciados que conseguem tornar-se excelentes estudantes e bons profissionais, mas isso não invalida a regra geral. Muitos alunos de contextos desfavorecidos têm pais que trabalham longas horas, sem margem para ajudar nos trabalhos de casa ou comparecer às reuniões escolares. E é aqui que reside um dos maiores desafios.
Por outro lado, há crianças que crescem rodeadas de estímulos intelectuais, que viajam, frequentam museus, assistem a peças de teatro e têm acesso a excelentes meios tecnológicos. Desde cedo, exploram um mundo de conhecimento muito para além do que a escola ensina ou proporciona. A tecnologia, cada vez mais essencial à aprendizagem, torna-se um novo fator de exclusão. Enquanto alguns alunos têm computadores modernos e internet rápida para assistir a aulas online e realizar pesquisas fora da sala de aula, outros fazem os trabalhos no telemóvel ou dependem dos recursos limitados da escola ou de alguma associação a que pertencem. Acreditem que, nos dias de hoje, ainda há alunos sem acesso a estes meios.
E o que dizer daqueles que precisam de trabalhar desde cedo para ajudar no sustento da família? Para apoiar uma mãe que, por motivos de saúde, deixou de conseguir trabalhar. Para ajudar a pagar contas básicas ou garantir que há comida na mesa. Para esses, o tempo de estudo deixa de ser uma prioridade e transforma-se num privilégio inalcançável, uma escolha que nunca puderam realmente fazer. Enquanto outros adolescentes frequentam explicações, participam em atividades extracurriculares ou simplesmente têm tempo para estudar, estes jovens enfrentam uma jornada dupla: a da escola e a do trabalho, muitas vezes exaustiva e sem alternativas. Assim, não é a falta de vontade que os impede de aprender, mas sim a falta de condições que os obriga a abdicar do seu futuro em prol da sobrevivência.
A escola, que deveria ser o grande elevador social, muitas vezes apenas reflete e perpetua as desigualdades. A tão defendida meritocracia esquece que nem todos partem da mesma linha de partida. Há desigualdades e, por vezes, são brutais. Ignorar este facto e exigir os mesmos resultados de alunos com condições tão distintas não é rigor, é uma profunda injustiça.
Uma sociedade que ignora esta realidade continua a perpetuar um ciclo onde o sucesso não depende apenas do esforço, mas sobretudo do ponto de partida. Enquanto a educação não for um verdadeiro agente de equidade, continuará a ser mais um espelho da desigualdade do que um caminho para superá-la.
Afinal, não deveríamos perguntar quem tem mais mérito, mas sim quem efetivamente teve a oportunidade de mostrar o seu verdadeiro potencial.
A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.”
Nelson Mandela