Uma chávena de imaginação, meia colher de sopa de fantasia e invenção q.b. Está dada a receita para a criatividade, que pode brotar da mais simples inspiração. Está ao alcance de todos, mesmo quando falta a pitada de talento necessária para atingir o nirvana da criação.
Há quem defina a arte como uma das formas mais estimulantes de passar o tempo. Escrever, esculpir, pintar, enfim, criar é um dos mais belos e perfeitos exemplos da capacidade humana. E mesmo para os que não se sentem particularmente abençoados com o condão artístico, basta uma pequena faísca para desencadear toda uma panóplia criativa. Embora, por vezes, possamos pensar que a criatividade é uma característica exclusiva dos grandes e intemporais artistas, a realidade é bem menos intelectual.
O uso da imaginação pode ter como exemplo uma actividade tão mundana como escolher o vaso onde se deposita uma determinada flor. Usar uma bota para este efeito pode parecer estranho; não deixa de ser um exemplo prático de como usar a criatividade. Pode até ser que, ao decorar a bota, se descubra um artista pintor até então reprimido por uma vida de rotinas e conformismo.
Aliás, se é nas pequenas coisas que se encontra a verdadeira felicidade, porque não começar onde o Mundo é mais mágico e ilimitado: pelos meandros incontornáveis e insondáveis da imaginação.
Um artista, estabelecido como tal, é fatalmente carcomido pela necessidade de impressionar, e geralmente aguça um talento que, porventura, terá nascido com ele. Já o criativo, o que gera ideias, sem compromisso nem prazo, esse é verdadeiramente livre. Pode não saber como compor uma sinfonia, mas pode sempre experimentar o prazer de pensar numa receita para o almoço de amanhã; o pior crítico será mesmo o criador.
O que se classifica como brilhante é geralmente uma obra de arte pouco dada a momentos de inspiração efémeros. Nas palavras de Edgar Alan Poe, traduzidas por Fernando Pessoa em Filosofia da Composição, “quando os homens falam de beleza, não entendem precisamente uma qualidade, como se supõe, mas uma impressão: em suma, têm presente a violenta e pura elevação da alma – não do intelecto ou do coração -, como já falei, e que resulta da contemplação do belo”.
Ora isto é arte no mais profundo âmago da contemplação; algo que paira sem definição, que permanece no imaginário, pouco dado a interpretações objectivas. Brilhantismo não é transmissível, mas perene na utopia artística. Arte é reclusa dos grandes e inacessíveis criadores, criatividade é cabelo ao vento e correria desenfreada.
Para fazer com que flua, leia um livro, conheça pessoas e culturas, aprenda com quem sabe como criar as ferramentas que a fazem brotar, envolva-se no ambiente propício à criação, tire partido de jogos e entretenimento que estimulem o raciocínio, aprenda música, pintura, escultura, viaje, escreva as ideias mais absurdas que lhe possam surgir, só não pare de descobrir, e criar, basta querer.
A criatividade não é, por isso, elitista. Pelo contrário, está presente ao virar de cada esquina, estendida pelo chão poeirento, largada ao vento, basta procurar a malha, e despois, é só puxar o fio…