Conversas que se têm em pensamento…
Alguém me dizia um destes dias que percebeu ao longo da passagem do tempo, e consequentemente da vida, que as pessoas não a conheciam verdadeiramente, nem mesmo aquelas com quem convivia mais de perto todos os dias, nem aquelas com quem confraternizava há décadas.
Pensei que também me acontecia o mesmo… e dizia-me esse alguém: “Curioso que assim seja, provavelmente culpa minha, porque não me consegui dar a conhecer, ou não o soube fazer, será?”, perguntou-me. Entreolhamo-nos com ar suspeito de quem não sabe muito bem a resposta certa a esta questão.
E continuava a sua reflexão: “Pensei que podia ser interessante escrever uma carta aberta, para a posteridade… para que me conheçam melhor, ou mesmo, para um dia em que eu já cá não esteja, a leitura deste registo possa espelhar um pouco aquilo que eu sou, para quem já não se lembre de quem eu fui, ou mesmo para quem nunca me conheceu, ainda que comigo convivesse todos os dias!”
“E que dirias tu nessa carta?”, perguntei do alto da minha curiosidade para tentar perceber se também eu estaria no grupo daqueles que não a conseguiam conhecer.
“Nada de muito complicado.”
Respondeu-me:
“Sempre que te olhei nos olhos e te disse que gosto de ti, acredita fi-lo de coração…
Sempre que pediste a minha opinião, acredita que te disse aquilo que sentia, nunca duvides da minha palavra, porque ela é a essência do meu ser. O meu cartão de identidade. Sempre a verdade, que por vezes custa ouvir…
Se calhar nem sempre te disse o que querias ouvir, mas disse-te a minha verdade, os amigos são assim, dizem o que sentem e não o que queremos ouvir.”
E ainda acrescentou: “E eu sou assim, amigo por natureza. Sou simples e natural nas palavras, genuíno nas atitudes, amigo nos conselhos e fundamentalmente crente nas pessoas. Sim continuo a acreditar, ainda que todos os dias me surpreenda, nunca deixarei de ser ingénuo, porque nesta ingenuidade reside o melhor do meu ser, a minha pureza enquanto pessoa!” Que delicia ouvir-te, respondi encantada. E ainda foi dizendo:
“Se me perguntares se também julgo as pessoas. Direi em minha defesa que não julgo, apenas constato. E são raras as vezes em que a minha impressão sobre alguém saiu contrária aquilo que eu senti, naquele primeiro momento, aquela primeira troca de olhares. Ainda que já tenha acontecido, escassas foram as vezes em que me enganei, mas já aconteceu, é verdade.”
Uau, pensei para comigo, temos algumas coisas em comum, e até acho que afinal te conheço, melhor do que eu achei que conhecesse!
Que bom foi ouvir aquela pessoa com quem, por breves instantes quase me confundi. Em jeito de conclusão ainda foi dizendo: “Do percurso do caminho, gosto de guardar apenas as boas memórias, aquelas que me fizeram feliz, mas bem sei que todas são importantes, porque se sofri em determinados momentos, também é verdade que aprendi e fiquei mais forte.”
“Ninguém é igual a ninguém. Todo o ser humano é um estranho ímpar.”
(Carlos Drummond de Andrade)