A escravatura é a filha das trevas: um povo ignorante é o instrumento cego da sua própria destruição. A ambição e a intriga abusam da credulidade e da experiência dos homens que não têm conhecimento político, económico e cívico (…)
Simón Bolívar, 1819.
Sou uma defensora acérrima da importância da História nas nossas vidas enquanto seres humanos e enquanto cidadãos. Sempre tive a sorte de ter excelentes professores de História ao longo do meu percurso escolar e isso despertou em mim uma persistente vontade de conhecer sempre mais. A análise histórica dos acontecimentos é algo fascinante e permite-nos analisar a evolução do Homem e do mundo onde vivemos. Gostar de História é muito mais do que saber nomes, datas e factos, é compreender dinâmicas, conjunturas e enquadramentos.
Para a maioria de nós o primeiro grande contacto com a História é realizado na escola. No 4º ano começamos a estudar História de Portugal e, tal como a História geral, é ensinada até ao 9º ano de escolaridade, centrada sobretudo no espaço geográfico do continente europeu. Apenas os alunos que enveredam pelos cursos de línguas e humanidades, de ciências socioeconómicas ou alguns cursos profissionais, como o de turismo, continuam a aprendizagem desta disciplina até ao final da escolaridade obrigatória.

Dir-me-ão que seis anos são mais do que suficientes para termos uma ideia geral da evolução histórica do homem e da sociedade. TALVEZ. Diria que os alunos conseguem ter conhecimento das linhas gerais. Contudo, devido a alguns fatores relacionados com o contexto escolar (extensão dos conteúdos programáticos da disciplina, complexidade de alguns temas abordados, escassos tempos letivos atribuídos à disciplina, turmas numerosas) a grande maioria das vezes isso não acontece. E, desta forma, cria-se uma enorme lacuna na educação do jovem e na formação do cidadão.
…
É verdade que muitas crianças e jovens – e adultos, diga-se – encaram este tema como uma “grande seca”. Para uma fã incondicional de História e da sua primazia na nossa formação humana e cívica, considero esta realidade dececionante, mas como cidadã considero-a preocupante.
Conhecer de onde viemos, quem somos e para onde vamos é fundamental. Desenvolver a análise e o pensamento crítico permite-nos olhar para a atualidade política, económica e social com algum distanciamento e ver as situações de uma outra perspetiva, analisando-as à luz de um olhar perspicaz. Será mais difícil não colocar em causa determinadas notícias ou informações que nos são transmitidas. Vivemos numa época de fake news que podem contribuir fortemente para a desestabilização do mundo democrático e, em última instância, levar à sua destruição. A melhor forma de combater a desinformação e desconstruir a ignorância maldosa é ler, comparar textos e fontes de informação e, a partir daí, construir a nossa própria opinião.

….
No entanto, afinal, quando e como podemos despertar o interesse pela História? Quanto mais cedo estivermos em contacto com ela, melhor. A escola é fundamental, pois é ela que nos ajuda a abrir algumas das portas do mundo. Porém, a família também tem o seu papel, mesmo quando falamos de conteúdos escolares.
Sabemos que a escola ensina, mas por norma fá-lo dentro de portas.1 Uma das grandes possibilidades da aprendizagem da História é podermos visitar lugares, monumentos, museus, pessoas. E, através desse contacto, começar a criar a nossa própria teia de interesses. Sobretudo para os mais jovens aprender de forma lúdica é essencial para prender a atenção, despertar a curiosidade e combater os estímulos da utilização excessiva das novas tecnologias. Fazer uma visita guiada, realizar um workshop, participar num evento como uma Feira Medieval ou um desfile comemorativo pode ajudar a descobrir um mundo novo. Escola e família podem e devem complementar-se na escolarização e educação de crianças e jovens.
Então e se já formos adultos? Desmistifiquemos a ideia de que já sabemos tudo e não podemos desenvolver novos interesses. Aprendemos quando lemos, vemos um documentário, visitamos um museu, participamos em ações cívicas, conversamos com os amigos e a família.
Viver a História fora de portas é uma excelente forma de desenvolver o gosto pela área e de alargar horizontes. Aprender História é uma poderosa arma contra a desinformação, o ódio e o medo. Uma população escolarizada consegue fazer escolhas conscientes ainda que, aos olhos de alguns, possam ser escolhas erradas. No entanto, tem a possibilidade de o fazer de uma forma livre, atenta e informada.
…
Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico.
- Não cabe aqui a análise de analisar estratégias de ensino, apenas sublinhar a relevância de uma boa formação de professores, que confere ao profissional ferramentas pedagógicas e psicológicas para uma vida dedicada ao ensino da História (e não só). ↩︎
Muito bom!