Algo vai mal no reino da Dinamarca

Exclusão social e pobreza são constantemente confundidos como sendo a mesma coisa, até porque uma pessoa em situação de pobreza tem muitas probabilidades de ser socialmente excluída; mas também, devido à quantidade de vezes que os políticos e sociedade civil usam estes conceitos indiscriminadamente. Alguém em exclusão social não tem que ser necessariamente morador num bairro social ou com poucos recursos económicos, embora seja lá onde se possam encontrar mais.

À semelhança do que ocorre com a pobreza, uma pessoa em situação de exclusão social é alguém que está em desvantagem e num processo de rutura. Esta desvantagem social, que se revela pela posse desigual de determinados recursos numa sociedade, e que influencia a forma como esta ela própria de auto-perceciona. É por isso que é tão importante, estar perto de grupos de risco e mostrar que existe uma alternativa; que é possível viver uma vida em que se valoriza mais o ser do que a origem.

Podemos resumir a exclusão como uma desadequação, em função da posse diferenciada de recursos, entre um indivíduo e a sociedade a que pertence. E, por isso, é um fenómeno que, pese embora se tornar mais frequente junto de pessoas em situação de pobreza, mas que ultrapassa a diferenciação com base em recursos económicos.

Pensemos no estereótipo do nerd que não consegue encaixar-se socialmente. Pode não estar em situação de pobreza, terá, porventura, mais conhecimento do que os demais, mas os recursos que tem são desadequados para se integrar.

O caso de uma pessoa na terceira idade que tem medo de sair à rua, porque se considera incapaz ou insegura, porque está escuro e tem receio de que possa ser assaltada, é alguém que experiencia uma situação de exclusão social. Esta pessoa está em processo de rutura com a sociedade em que se insere, por um lado pela incapacidade de mobilidade, e por outro, pelo estigma a que está sujeita. Esta pessoa está em desvantagem por não ser detentora do recurso juventude, mobilidade, saúde, entre outros. E essa desadequação despoleta uma imagem distorcida de si mesma influenciando a autoestima e as relações sociais que tem.

Pensar em exclusão social é pensar, igualmente, em inclusão social e, especialmente, nos critérios de valor que são importantes numa dada sociedade. Só poderemos combater a exclusão social quando a posse de recursos, sejam eles de prestígio, capital financeiros ou status, serem preteridos por outros mais de acordo com a realidade: princípios humanistas. A pessoa como sendo o centro de valorização. O que detém, ou não, pode alterar ao longo do tempo ou pela perceção da sociedade.

É importante alterarmos os princípios e os valores que norteiam a nossa sociedade, de modo que haja espaço para todos e consigam todos adequar-se. O ditado já diz: Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, mas o mesmo também se aplica aos valores e a posse de recursos que se consideram importantes. Uma sociedade assente no materialismo e numa adoração à juventude, e do que lhe é próprio, só pode redundar numa sistemática exclusão. Estas transformações, paulatinamente, já começam a introduzirem-se, com a inclusão, na moda, de modelos com medidas e cores diferentes; lentamente, fruto da pandemia, os mais velhos já não são tão invisíveis. Mas ainda há muito a fazer!

A sociedade perfeita não existe e poderão alegar que será impossível incluir todos numa sociedade. É um argumento plausível, mas também já foi comum dizer que era impossível contornar África até que um navegador dobrou o Cabo da Boa Esperança. O facto de aparentar impossível não significa que não tentemos.

Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico

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