Saúde sem fios

A visita ao médico é inevitável e, mesmo que não soframos maleitas de maior, a consulta de rotina é indispensável. Porém, desde mezinhas caseiras a livros revistos por profissionais da área, o leque de opções para procurar diagnósticos e respectivos tratamentos é vasto. A internet só agudizou uma realidade há muito existencial. Se se multiplicam páginas web inteiramente dedicadas à saúde, os gigantes da tecnologia estão também a apostar muitas fichas na saúde ‘do it yourself’, melhor dito, ‘monitorize yourself’.

Mais especificamente, tomamos como exemplo o HealthKit da Apple, que recolhe dados de diversas aplicações que meçam indicadores como os batimentos cardíacos, valores nutricionais ingeridos, ou até o número de minutos/horas de actividade física e calorias queimadas. A Apple prometeu, durante o lançamento da tecnologia, revolucionar a saúde e a afirmação pode não ser exagerada.

JN_saudesemfios_1Nos Estados Unidos da América, os hospitais estão já a tirar partido do HealthKit, que permite aos médicos manter um registo fidedigno e compreensivo de toda a informação passível de monitorização, desde pressão sanguínea a sinais vitais. Tudo isto sem qualquer esforço, já que a aplicação agrega os dados de um utilizador de iPhone, ou do mais recente gadget sensação, o relógio computorizado, enviando-os de forma automática, mediante consentimento, ao médico. É aqui que reside o trunfo da Apple em relação aos concorrentes, já que a Samsung e a Google não avançaram ainda para este passo crucial, o de permitir ao médico aceder aos dados.

Não deixa de ser impressionante este poder de intervenção quase imediato nascido da monitorização de metadados, contudo, a questão fica no ar: não estará a Apple (e congéneres) a redefinir um conceito, de doente para consumidor? O serviço proporcionado pelos relógios e smartphones é ainda pouco acessível a qualquer carteira e não deixa de ser imperativo o uso dos aparelhos. Há ainda a inevitabilidade dos hipocondríacos em potência. Certo, por hora, é o facto de até a indústria da saúde tirar partido do doente-consumidor. A Mayo Clinic, nos EUA, não aposta em publicidade dirigida ao doente, optando antes por publicitar as potencialidades do HealthKit, ou melhor, da aplicação relacionada, especificamente desenvolvida para a clínica.

O HealthKit, apesar das apreensões, é capaz de rivalizar com outros feitos extraordinários do inevitável casamento entre a tecnologia e a saúde, não só por facilitar diagnósticos, mas por permitir uma resposta imediata a sinais de perigo precoces. Contudo, este é apenas mais uma pequena evolução.

Para trás já ficaram outras conquistas, igualmente revolucionárias. Podemos lembrar as consultas online, ou através de telefone, já que a tecnologia facilitou o contacto permanente e sem horário com os profissionais de saúde, ou até as inúmeras aplicações que prometem ajudar a dormir melhor e sem preocupações, desde aulas de Yoga a exercícios de relaxamento. E, se um estilo de vida saudável evoca menos visitas ao médico, então, também se podem adivinhar menos despesas com saúde.

Convém salientar, que o maravilhoso novo mundo das Apps saudáveis não se esgota em processos e resultados físicos. Distúrbios como a bulimia, ou a anorexia são combatidos com recurso a psicólogos, que agora têm também um aliado nas aplicações para smartphones. Para além de ser possível controlar a quantidade nutricional ingerida e eliminada, é ainda possível o contacto permanente com um terapeuta, através de mensagens.

A realidade da saúde nos tempos modernos é esta: um estilo de vida saudável, um médico, um terapeuta e até o nosso coração e a quantidade de vezes que bate, cabe tudo no bolso.

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