Este fim de semana irá realizar-se a 94ª edição dos prémios de maior prestígio na indústria de cinema a nível mundial. Ao longo dos anos assistimos a várias alterações e reestruturações da apresentação destes prémios.
Nas regras atuais, existem espaço para a nomeação de 10 filmes ao tão cobiçado galardão de “Melhor Filme” e esse espaço foi ocupado na totalidade nesta edição. Passo agora a fazer uma sintética crítica aos 10 filmes, seguido de uma previsão às que considero ser as principais categorias, e irei ordenar esta análise daqueles que considero terem uma maior qualidade e também por preferência pessoal.
Oscares 2022: Melhor Filme
The Power Of The Dog – Existe normalmente um “favorito” e um “mais nomeado” que se destaca de todos os outros, e este ano esse filme é The Power Of The Dog com 12 nomeações. Conta a história de dois irmãos donos de um rancho, que começam a criar uma rivalidade entre si quando um deles traz uma viúva e o seu filho para viverem com eles. É daqueles filmes que “ficam contigo” e te fazem pensar, muito depois dos créditos finais. A história cria uma atmosfera intensa e a maior tensão que senti em qualquer filme este ano. Existe uma espécie de tortura psicológica e claustrofóbica feita por Phil (interpretado brilhantemente por Benedict Cumberbatch) e o twist final dá uma nova perspectiva sobre todo o filme. Embora ache que tem mais nomeações do que as merecidas (a de Jesse Plemons por exemplo) é sem dúvida um dos grandes trunfos de 2021 e um enorme filme.
Belfast – A “Roma” deste ano, como lhe gosto de chamar. Belfast conta uma visão muito pessoal e introspetiva na vida do realizador Kenneth Branagh através do nosso protagonista Buddy, a história é contada na sua grande maioria a preto e branco com uma belíssima cinematografia, a banda sonora é brilhante e ajustada a cada momento do filme e as interpretações muito competentes com especial destaque para os dois atores secundários Judi Dench e Ciarán Hinds que interpretam os avós da personagem principal e que com as suas merecidas nomeações respetivas, totalizaram um apreciável número de 7 nomeações para esta edição.
Drive My Car – Uma poderosa história sobre luto e redenção/reconstrução de amor próprio. Nestes últimos anos tem sido comum existir um filme estrangeiro que consegue “quebrar a barreira” e tem uma nomeação para Melhor Filme também, ver os exemplos de “Roma” e “Parasite” e embora isto de certa forma invalide a categoria de “Melhor Filme Estrangeiro” (porque se é o único filme estrangeiro nomeado para melhor filme a nível global, como é que não há de ser o melhor filme estrangeiro). Ainda assim um filme muito bom, em que o silêncio ensurdece.
CODA – O filme “feel good” deste ano com “coração, música” e uma mensagem muito importante sobre a diferença. Tem sido um “dark horse” nesta temporada de prémios e tem surpreendido e ganho o “Melhor Filme” em muitas outras associações que funcionam como barómetros para prever os Oscars. Acho que é um filme bem feito, com uma ótima edição de som para deixar o espectador no lugar daqueles que não ouvem, e com uma brilhante atuação de Troy Katsur.
King Richard – A inspiradora história de Richard Williams, pai de duas lendas vivas do ténis mundial, as irmãs Serena Williams e Vénus Williams. Embora seja competente em todos os aspetos, como a sua edição, o filme vence pela enorme atuação de Will Smith que prova ser um fantástico ator quando tem um bom material entre mãos.
Nightmare Alley – Um filme interessante, que demora a “arrancar” o interesse do espectador mas que vai melhorando a cada momento que passa. O filme lida no fundo com o poder de persuasão e a forma como podemos usar a leitura de comportamentos para conseguirmos “adivinhar” os pensamentos dos outros. Bradley Cooper é competente e interpreta bem a ascensão do poder e a loucura que pode advir com isso.
Licorice Pizza – Um filme do qual eu esperava muito mais. Paul Thomas Anderson é sempre um mestre atrás das câmaras e aqui vemos a sua versão mais sentimental e jovial. Embora seja muito bem filmado e editado, a história não parece ter qualquer propósito. Conta a história apenas de um rapaz de 15 anos que se interessa por uma rapariga de idade adulta e existe um subplot muito mal desenvolvido sobre os dois quererem ser empreendedores de sucesso. O que mais resulta neste filme são os dois atores principais que são genuínos, e tem um aspeto completamente banal, o que dá realismo ao filme (ajuda também ser o primeiro filme para ambos os atores). Ainda assim não resulta tão bem como poderia.
West Side Story – Confesso nunca ter sido um grande fã do clássico de 1961, mesmo tendo o visto mais que uma vez. Acho que, embora a premissa e história não seja o tipo de trama em que eu me sinta investido particularmente, Steven Spielberg faz aqui um belo trabalho de direção e edição, o filme consegue superar o original (o que vale o que vale de quem não adorou o original). Acho que deveria ter existido o risco de tentar fazer algo um pouco diferente, ainda assim a simbiose das vozes e coreografias são ótimas.
Dune – Uma adaptação que tinha tudo para resultar e que na verdade resulta nos vários âmbitos de cinematografia, representação e efeitos especiais. Só existe um enorme problema, isto não é um filme, é uma metade de um filme, o que faz toda a diferença. Existem filmes que contam uma história com principio, meio e fim e que depois abrem espaço para continuações, este simplesmente acaba literalmente “a meio” da história e embora exista uma parte 2 a caminho, os filmes não foram feitos para serem contados por capítulos, para isso existem séries, por esse fator único este filme não consegue ser dos melhores de 2021. Ainda assim deverá ganhar algumas estatuetas pelos incríveis aspetos técnicos.
Don’t Look Up – Uma sátira à sociedade atual, com um elenco de luxo mas que infelizmente devido à perspetiva demasiado política do realizador Adam McKay, acaba por se sobrepor ao humor que tenta imprimir à história, para mim não resultou.
Previsões Oscares 2022
Melhor Filme Estrangeiro : Drive My Car – Não há sequer discussão.
Melhor Filme de Animação : Encanto– Muito dificilmente poderá fugir à obra que colocou muitas divertidas canções nos ouvidos de todo o mundo, ainda que Luca e Flee possam ter uma palavra a dizer.
Melhor Argumento Adaptado : Sian Heder (CODA) – Embora “Power Of The Dog” esteja nomeado nesta categoria também, acho que a Academia vai querer premiar os dois filmes, e vai entregar um outro prémio com mais prestígio à realizadora Jane Campion e deixar este para Sian Heder.
Melhor Argumento Original : Paul Thomas Anderson (Licorice Pizza) – É uma das mais acirradas categorias da noite e díficil de prever, ainda assim penso que a Academia como já vem sendo hábito vai querer premiar um realizador/guionista que nunca ganhou e que já tem várias nomeações e pode encaixar aqui em Paul Thomas Anderson que em 10 nomeações, nunca venceu um Oscar.
Melhor Ator Secundário : Troy Kotsur (CODA) – Penso que embora Kodi McPhee em “Power Of The Dog” fosse um justo vencedor, Troy Kotsur tem ganho mais atenção no decorrer do tempo e o facto de McPhee dividir a nomeação com Jesse Plemons pelo mesmo filme, penso que também será decisivo para que Kotsur vença (e merecidamente).
Melhor Atriz Secundária : Ariana DeBose (West Side Story) – Daquelas categorias em que é díficil imaginar outro cenário visto que a atriz venceu praticamente todos os prémios até agora, ainda assim creio que Jessie Buckley por “The Lost Daughter” ou Judi Dench por “Belfast” mereciam disputar o prémio entre si.
Melhor Ator Principal : Will Smith (King Richard) – É um prémio que o experiente ator tem tudo para ganhar, o papel é quase feito por um “alfaiate” para que caiba perfeitamente num vencedor de Oscar e para além disso Will venceu o BAFTA que é um bom e forte indicador destes prémios. Bennedict Cumberbatch não me surpreenderia no entanto de todo e seria inteiramente merecido também.
Melhor Atriz Principal : Kristen Stewart (Spencer) – É uma categoria algo estranha de prever, não parece haver uma favorita real. Penso que será Kristen pela enorme atuação que entregou, e porque na verdade o filme só é sequer tolerável devido à sua atuação. É uma categoria em que todos os filmes nomeados não estão nomeados para praticamente mais nada, o que é uma raridade. Ainda assim Nicole Kidman não me chocaria também.
Melhor Realizador : Jane Campion (The Power Of The Dog) – É a grande favorita e acho que não existe ninguém que possa negar que o que Jane fez neste filme foi superior a qualquer outro realizador no ano de 2021. Coloco todas as minhas fichas em Jane, se este filme não ganhar mais nenhum prémio, este vencerá.
Melhor Filme : The Power Of The Dog – Curiosamente, neste momento o grande favorito é “CODA” devido às ultimas premiações, ainda assim vou ficar-me pelo que foi o favorito durante vários meses e por aquele que para mim foi de facto o melhor e mais bem conseguido filme do ano de 2021.