O tema de hoje relembrou-me um episódio que vivi numa das empresas em que trabalhei. Por ser uma empresa internacional e ter várias delegações espalhadas pelo mundo, criaram um programa de recursos humanos que permitia a mobilidade dos colaboradores por projeto em qualquer empresa que no momento tivesse um desafio aliciante. Na altura, já não era júnior e estava completamente integrada na direção onde trabalhava e na própria empresa, por isso, quando vi aparecer uma oportunidade para trabalhar na minha área de formação – Marketing e Comunicação – num projeto em Atenas relacionado com os Jogos Olímpicos, apressei-me a falar com o meu chefe para construirmos a minha candidatura.
Assim foi. Ele ajudou-me a redigir a minha candidatura e apoiou a minha intenção junto dos Recurso Humanos.
No dia da entrevista com a responsável de recursos humanos sobre a minha candidatura, qual não foi o meu espanto, quando os argumentos para não ser selecionada foram:
1 – “Não é júnior, mas tem pouca experiência.”
Hilariante! Se nunca nos derem oportunidades, seremos a vida toda pessoas sem experiência por mais anos que tenhamos (isto dito a uma pessoa que começou a trabalhar antes de acabar o curso para não ter de ouvir este argumento “ainda não tem experiência”).
2- “Não tem um diploma de inglês”
Eu que tive inglês desde dos 9 anos até aos 18. Fiquei incrédula… Portanto, havia duvidas quanto às minhas apetências linguísticas, que facilmente se resolveriam se me tivesse sido dada a oportunidade de realizar um teste para clarificar. Achei eu que seria o lógico.
3 – “As funções não se enquadram com o seu perfil”
WTF?! A candidatura foi aprovada entusiasticamente pelo meu chefe, porque tinha tudo a ver com a minha formação e era um desafio muito interessante. Pelos vistos, ele, que era o expert, não percebia um boi do que estava a fazer. Já a senhora dos recurso humanos era barra.
A reunião terminou comigo a ter a ultima palavra: “Então, tenho de lhe trazer um diploma de inglês é isso?” (do outro lado uma consultora de RH engasgada e a dizer: “Não, não é isso…”) Mais tenho de dizer ao meu chefe que não percebe nada do que fazemos, porque, pelos vistos, percebeu tudo mal! (Silêncio do outro lado…). Teria sido mais honesto terem-me dito logo que não estava selecionada e que tinham optado por outra candidata/o sem deixaram no ar a sensação de que, sem uma cunha mais influente que o parecer da minha chefia direta, não teria hipótese!“
Não consegui fazer parte do projeto de mobilidade e nunca mais tive vontade de me candidatar ao quer que fosse dentro da empresa. Depois disso, não só tirei um diploma de Inglês como tirei também o de Espanhol e algumas aulas para me relembrar o Francês, sempre tirados nos sítios com os melhores diplomas de todos, para que não tivesse de ouvir este disparate novamente. Ah, mais o diploma de Pós-Graduação em Marketing e Gestão e o Mestrado. Neste momento, não tenho pontas soltas no meu CV… só pelo excesso de formação e, quanto a isso, a experiência é o que faz de mim uma pessoa melhor e uma profissional mais completa.
Neste caso, não tive hipótese de agradecer a esta senhora dos recursos humanos o impulso. Iria fazer muito do que fiz, só que aquela nega fez com que me adiantasse e procurasse fazer todas as certificações em instituições sem margem para argumentos ridículos como os que tive de ouvir. Quando alcançamos os nossos objetivos, temos tendência a agradecer a todos aqueles que nos apoiaram e estiveram ao nosso lado, geralmente de forma positiva, e poucas vezes mencionamos aqueles que não acreditaram em nós e que nos boicotaram. Nunca é tarde para fazê-lo, vai daqui o meu agradecimento!
Se isto não me tivesse acontecido na altura em que aconteceu, não teria procurado um emprego melhor, nem estudado tudo o que estudei para hoje conseguir dedicar-me a outras coisas que, entretanto, descobrir preencherem-me muito mais.
Há males que vêm por bem!