Onde Jaz o teu Silêncio?

Deveria fazer apenas parte do ser humano um conceito equilibrado que fizesse de todos nós orgulhosos combatentes da espada da justiça. Recheados de armaduras, soldados da paz que buscam o cálice da dignidade, moralidade e ética. Contra a barbárie, contra o desprezo, contra a humilhação, contra a inglória luz que tantos carregam sem que consigam suster o peso da mesma.

Somos recheados de lutas intensas, damos uma no cravo, outra na ferradura. Diga “Não” à Xenofobia… mas não aceite ciganos por perto de si! Diga “Sim” à homossexualidade, mas jamais tenha a coragem de dizer alto e em bom som “Sou amigo de um maricas!”.

Diz “Não” ao racismo, mas não te exaltes em roda de amigos, entre batidas nas costas e sorrisos trocados que: “Os pretos” servem para estar na senzala. Diz “Não” ao aborto, mas não desclassifiques a mulher que tem muitos filhos. Diz “Não” à guerra pelas injustiças vigentes, pelo horror que a mesma encerra em si, mas não digas: “Refugiados aqui, nunca!” Diz “Não” à existência de Deus, mas não clames ao alto com: “ Porquê meu Deus?”.

Que lutas travamos? Que verdades dizemos? Que ideias passamos? Do que entendemos? Que ruídos criamos? Que silêncios matamos?  Que coragem é a nossa? Que revoluções sem rebeliões travamos enfim? Quem merece o teu silêncio? Quem não escuta as notas que dele emanam? Quem merece escutar tua voz? Quem merece pernoitar no teu silêncio? Que pecado carregas em ti que marca no outro a ferida profunda que em ti te corrói? Que ruído te transforma e te submete à maldade? Que sociedade manieta os teus passos e corróis os teus silêncios? Ou serás tu?

Que balança é a tua onde te perdes na injustiça da mentira e te recrias na verdade do vazio?  Quem és tu que medo tens que se solte a voz da verdade? Quem és tu que carregas coragem que se humilha no medo de um arrependimento atroz? Que silêncio tu escolhes? O meu silêncio? O teu silêncio? O nosso silêncio? E que que voz se erguerá depois disso? A da coragem? Do equilíbrio? Da sensatez? Da Pureza? Da construção? Como te defines depois do silêncio? Que sociedade terá aquele que se cala em silêncio? Que valor humano acrescenta o silêncio ao equilíbrio do mesmo? Depois de tanto ruido, como renascerás? Que rebelião estarás tu disposto a concentrar forças? Na mudança de ti?

O que te permite o silêncio depois de lutas intensas? Batalhas travadas, guerras perdidas, vitórias em ombros, trompetes que se abrem em forma de repúdio ou rejúbilo? Os ruídos da insensatez, da malvadez, da descaracterização do ser que carregas em ti. Da intensa falha humana na arte de não saber silenciar-se para criar a arte do próprio equilíbrio.

Onde jaz esse teu silêncio e de que forma o utilizas para compensar tamanhos ruídos? Se é que o fazes…se é que o respeitas…se é que o consegues…se é que vives…

 

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