A arte surge quando o autor a concebe e materializa ou quando o recetor a perceciona, sente e interage com ela e a interioriza?
Este artigo existe agora que o estou a escrever, ou existirá apenas se e quando o recetor, tu que o lês, o sente e interage com ele?
Não tendo a ousadia de sequer tentar que este artigo seja considerado arte, mas usando este exemplo de escrita, em que o passado e o futuro se irão encontrar com este momento presente em que o escrevo e te crio esta inquietação que surgiu enquanto leste este parágrafo.
A arte exige sempre que haja um emissor/artista e um recetor, a arte exige uma partilha. Mais do que desenhar, pintar, fotografar, escrever, jogar, ou fazer algo bem, a arte exige que haja uma partilha e pelo menos um recetor/interlocutor que se conecte com esse dom intemporalmente.
Alguém distinguia recentemente numa entrevista arte e entretenimento desta forma:
Entretenimento é o que nos distrai de onde estamos,
Arte é o que nos transporta para outro lugar.
Sendo eu uma “believer” de que somos capazes de tudo e tendo em consideração que sou sensitiva e que reparo e valorizo os pormenores, digo que todos nós podemos e fazemos arte. Em algum momento ou situação, dissemos, criámos, fizemos ou tivemos determinada atitude que se imortalizou num momento que nos transportou, a nós e a outros, para outra dimensão, conscientes ou não da sua existência.
É a arte imaterial, aquela da imagem que fotografamos no nosso coração, da escultura que guardamos nas palmas das mãos, do quadro que pintamos com as nossas impressões digitais, das palavras que escrevemos na boca, dos odores que guardamos na pele.
Arte é tudo o que criamos quando sentimos.
E arte é também a que implica uma exposição, física ou digital, que implica uma abertura pessoal que expomos à crítica dos outros. Fazer arte exige trabalho, empenho, dedicação, tentativa e erro, inspiração, libertação moral, experiência, transcendência, oportunidade, foco, ousadia, incerteza, contactos, intuição, dor e alegria.
Arte exige movimento, risco, superação e muita inquietação, que inconscientemente nos transporta para outro lugar e partilha.
A obra prima que acompanha este artigo foi batizada pela artista, do alto dos seus quase 6 anos, de “O Homem que estava a cortar a relva”. É arte não é?