Hoje trago-vos a história de uma menina de 10 anos chamada Sandra. Não, não sou eu. Não faria isso. Calha de eu gostar deste nome. Adiante…
A Sandra estava no 2º ciclo do ensino básico e era boa aluna: gostava particularmente de inglês – não era o seu primeiro contacto com a língua, teve a oportunidade de estudar no 1º ciclo. A Sandra era muito sociável e tinha muitas amigas. Era delegada de turma.
Na entrada no 3º ciclo, a Sandra descobriu que ela e a sua melhor amiga foram colocadas em turmas diferentes. Questionaram a diretora da escola que enviou o diagnóstico para casa na caderneta do aluno:
‘Escolhemos mudar a Sandra de turma e separa-la da amiga por a Sandra ser muito faladora’.
Pouco importa para esta história quais as repercussões que esta mudança teve na vida académica da Sandra. Do ponto de vista da sociologia, até interessa. Do ponto de vista político, não.
Era importante para aquele grupo de professores que a Sandra e a amiga mantivessem as notas e não se distraíssem com as capas da Super Pop, cuja manchete dizia que o Kevin ia deixar os Backstreet Boys.
A Sandra cresceu e tornou-se uma espetacular pessoa. Teve a oportunidade de estar inserida em vários projetos de educação não formal. Um deles era sobre a violência no namoro. O projeto seguiu por várias escolas e terminou num espetáculo numa sala de teatro. Convidou-se uma vereadora da câmara municipal para fazer um pequeno discurso antes do espetáculo. A vereadora iniciou o seu discurso com estas palavras:
‘Isto também é escola’.
Verdade. Algo criado fora do ambiente escolar também pode ser escola. Um tema que não aparece nos manuais também deve ser escola.
“De uma perspetiva geral, podemos dizer que as soft skills mais procuradas são: comunicação, trabalho em equipa e resiliência“, comenta François-Pierre Puech, country manager da Robert Walters Portugal.’ – Podem ler o resto da notícia aqui.
Quando tenho ações sobre procura de emprego, explico o conceito de soft skills: explico serem as competências da nossa personalidade. Para os mais novos, dou o exemplo da teimosia. ‘Não digam que são teimosos, digam que são determinados’. Um exemplo é sempre mais visual do que um conceito.
Não há nenhuma disciplina com o nome ‘trabalho em equipa’. Porém, só o facto de estar inserido numa turma pretende desenvolver na criança e no adolescente esta competência.
O ranking das escolas abre os telejornais. E vamos ver em que lugar ficou a escola onde trabalhamos, onde estudam os nossos filhos, onde nós fizemos o ensino secundário. Ficamos orgulhosos se ficar bem posicionada. Até se torna saudável um pouco de competição. Contudo, estejamos conscientes que este ranking não contabiliza as soft skills.
Não sabemos quais as escolas que trabalham a violência no namoro, a igualdade de género, o trabalho de equipa, a comunicação, inclusão e a resiliência (só para deixar alguns exemplos). Nem sabemos quantas escolas fazem simulações de entrevista de emprego ou ajudam na criação do CV.
Mais tarde, a nossa colega Sandra, já no secundário, teve a sorte de estar inserida numa turma com bons alunos e alunas, a todos os níveis. Ajudaram-na muito nas disciplinas onde tinha mais dificuldade.
A Sandra não estudou suficiente para um teste e teve a audácia de levar cábulas. Com o nervosismo, deixou cair o minúsculo papel mesmo quando a professora estava ao seu lado.
Mas esta não é a única história cómica desta turma.
Duas alunas muito amigas, vamos chama-las Anna e Elsa, faziam tudo juntas: chegavam juntas à escola, almoçavam juntas, saiam juntas e estudavam juntas. E, sem grandes surpresas, as suas notas dos testes eram sempre iguais. Na entrega de um teste, uma professora fez questão de salientar quanto unidas eram estas amigas: até os erros ortográficos eram os mesmos.