Fado. Portugal. Desgraça. Choradinho. Ciúme. Tragédia. Só que não. O fado, canção nacional, tema alma lusa impressa com dor e mágoa. Contudo outros valores, mais jovens, surgem no mercado para animar o panorama musical. Os anos 80 foram uma lufada de ar fresco que ainda dá o ar da sua graça.
Época de uma certa prosperidade, uma longa esperança de futuro e a música reflectia esse desejo, a vontade grande de seguir caminho. Os palcos chamavam com mansidão e os músicos, esses aprendizes de feiticeiro, respondiam com entusiastas bandas. A pujança foi o motor primordial da vida.
Heróis do Mar
Banda formada em 1981 com elementos que já tinham experiência no meio musical. Pedro Ayres de Magalhães, Pedro Paulo Gonçalves e Carlos Maria Trindade são os pais desta banda que gravou cinco álbuns e tinha como missão representar a alma lusa, aquela que não morria e tinha roupagens novas. António José de Almeida e Rui Pregal da Cunha juntam-se ao trio inicial. Este último estreava-se nas artes musicais.
“Paixão”, “Só gosto de ti”, “Saudade” e outros bem-sonantes títulos, foram e são ainda cantados por muitos. Contudo estes foram os pioneiros na composição geral, onde a indumentária tinha peso forte e ligação com a letra. Ousaram e ganharam.
Inicialmente mostram um visual que lembrava um passado que se queria esquecer, levantam celeuma e polémica, o mote certo para serem conhecidos. Posteriormente, com um novo estilismo, sem um exacerbado nacionalismo, o ar neo-militar, mais arrojado, mostram-se com fitas de cabedal e calças rasgadas (quem diria?), uma imagem misógina e atraente.
Campo de Ourique, em Lisboa, foi o local onde nasceu o grupo cujos elementos já tinham sido de uma outra banda, “Corpo Diplomático”, que se dissolveu. O nome é retirado do primeiro verso de “Os Lusíadas”, um enaltecimento à cultura greco-romana e à sua beleza clássica.
A banda deu rapidamente nas vistas e até ser convidada para fazer as primeiras partes de outros músicos consagrados, foi um pulinho. Os “Roxy Music” e “King Crimson”, bandas de renome, ficaram logo encantados com o grupo que trajava em estilo neo militar, mas ainda mais ousado.
Muito cabedal, calças rasgadas (a verdade é que esta moda pegaria mais tarde) e uma imagem bem misógina, eram a pura atracção para grupos heterogéneos de adolescentes e jovens adultos.
Em 1982, a cantora Né Ladeiras, emprestou a sua voz para cantar com o grupo “Amor” e o sucesso não se fez esperar. Este nome era sinónimo de enchentes e de fãs tão fundamentalistas que até os copiavam no vestir.
O último álbum, “Heróis do Mar”, data de 1988 e, no ano seguinte, o grupo separa-se, mas todos eles seguiram carreiras a solo.
Pedro Ayres de Magalhães foi aluno do Colégio Militar, que abandonou para estudar música. Além da erudita, foi um autodidacta. Na década de 70, já o seu nome aparece ligado a bandas como “Faíscas” e “Corpo Diplomático”, com quem irá formar os “Heróis do Mar”.
Lidera a “AXO”, um grupo de extrema-direita, com um conteúdo muito surrealista, cuja missão era chocar os barbudos do folk e da “paz, povo e habitação”, no palavreado de Sérgio Godinho.
Miguel Esteves Cardoso doou a sua pena com a Fundação Atlântida, mas foi Pedro o director musical que produziu artistas como, Anamar e Delfins. Cria igualmente o grupo “Madredeus” com Rodrigo Leão e é o impulsionador de um outro projecto, “Resistência”.
A 9 de Junho de 1995 é feito oficial da Ordem do Infante D. Henrique.
Paulo Gonçalves também tocou com os “Faíscas”, pioneiros do punk, na guitarra e deu também a sua voz. Depois passou para os “Corpo Diplomático”, a new wave musical.
Com Rui Pregal da Cunha funda LX 90 “Uma Revolução por Minuto”. Após o som, emigram para Inglaterra e mudam o nome para ” Kick out the Jams”.
Abre, com Andreia, sua mulher, um atelier em Londres, Pavement que “costumiza” roupa. Um dos seus clientes foi David Bowie. Participa em filmes e regressa a Portugal.
De regresso a Portugal, em Lisboa, abre a Loja Crucifixo. Voltou à música e teve uma parceria com os Delfins.
Carlos Maria Trindade estuda no conservatório, piano e composição. Em 1979, é um dos fundadores do “Corpo Diplomático” e, em 1982, lança-se a solo com “Princesa”.
Torna-se produtor dos Rádio Macau, “Spleen”, dos Xutos e Pontapés, “Circo de Feras” e dos dois primeiros álbuns dos Delfins.
No ano de 1992 é a vez de “Mr. Wollogallu”, de parceria com Nuno Canavarro. Em 1994, com Rodrigo Leão, dá início aos Madredeus.
Regressa à produção com “Love”, dos Santos e Pecadores, e “Fado”, de Marisa. Em 2011, edita “20 Mundos Nómadas”, uma colectânea. 2015 será o ano de “Uguru”, da Oriente.
Rui Pregal da Cunha nasceu em Macau e veio para Portugal aos 4 anos. É o vocalista da banda Heróis do Mar. Em 1990, está na LX 90 “Uma Revolução por Minuto”.
Cria www.invisível.pt, em 1999, um projecto bem inovador para a época, com variados artistas e, entre eles, Rui Reininho.
O regresso à música acontece em 2010 com “Vá lá senhora” e a participação com “Os Golpes” e os “Nouvelle Vague”, com concertos ao vivo.
Trabalhou em publicidade e ainda na produção musical. Mais tarde abriu um restaurante “Can the can”, uma homenagem às conservas e ao fado.
Fez parcerias com os “Ala dos Namorados”, “Ena Pá 2000”, Rogério Charraz e Miguel Ângelo. 2014 foi tempo de homenagem a António Variações no Rock in Rio, Lisboa.
“Rapazes da Praia”, o hino de celebração do centenário do clube “Os Belenenses”, foi cantado com a sua voz, em 2019.