Disseram-me que estes eram tempos de mudança. Que a mudança só ocorre quando se terminam ciclos. Que os ciclos têm de ser terminados para que algo de novo possa nascer. Que quando não os encerramos devidamente, a vida sempre tem uma forma de os encerrar convenientemente. Muitas vezes de forma abrupta. Porque é a única forma de se nos abrirem os olhos, de vermos o que está à nossa frente.
Deparo-me por isso, à minha volta, no peso que muita gente carrega. No grande turbilhão de situações que as pessoas têm passado e percebo que nem sempre é fácil aplicar na existência tudo aquilo em que sempre acreditei. Há momentos que me escutam quando dou uma força. Há outros que nem sei o que dizer. A realidade é tão densa e consigo percebê-la tão bem que respiro fundo e entendo que no silêncio também existem explicações mesmo quando elas não surgem.
Fico triste. Olho à volta e vejo um país desestruturado, que anda em frente porque existem forças inexplicáveis em pessoas extraordinárias que no meio da falta de tudo fazem de tudo um pouco para que nada falte aos outros.
Sem querer e sem cusquices, dou por mim a observar quem me rodeia. Às vezes, em situações comuns, como numa simples ida ao café (garanto que quem me conhece e acompanha já está habituado). Observo os outros e dou sempre por mim a reflectir, não é fácil viver, quantas situações terão estas pessoas por resolver que nem sequer demonstram. Será que alguém está a fazer exactamente o mesmo comigo, neste preciso momento?
Recordo-me. São tempos de mudança. São tempos de termos coragem de tirar as coisas todas para fora das gavetas, dos armários, independentemente de fúrias e outros cansaços. Escolhermos o que não nos serve mais, o que não faz falta e colocarmos tudo no lugar convenientemente.
Arrumarmos e cuidarmos dos nossos assuntos é por vezes tão inglório. Nos desafios de quem nos rodeia conseguimos perceber tantas vezes os nossos. Conheço quem muitas vezes acaba por apoiar os outros para que possa fugir do apoio a si próprio. Também já o fiz. Também conheço quem se esteja nas tintas para o que os outros estão a passar. Dentro das nossas próprias justificações, o ser humano consegue sempre perceber o quanto o outro é desajustado na sua forma de viver. Em bandos arrumam-se os assuntos dos outros sem que os outros sequer se apercebam. Esta é outra forma de fugir.
Decorrem neste momento muitas mudanças. Muitos ciclos por terminar e outros que estão por surgir. E apesar dos silêncios, das fugas e das dúvidas não quero deixar de acreditar. Não quero baixar os braços nem fechar os meus olhos que observam nem deixar de abraçar quem precise. E deixar que me abracem. Mesmo com todos os assuntos arrumados.