Existe uma reflexão maravilhosa que advém de observarmos a Natureza. A maneira como ela supera perdas e se renova é um bom exemplo do que também pode acontecer connosco.
Quando alguém que amamos nos deixa ou morre, sentimo-nos como uma casa vazia, em ruínas. Tudo parece ter-se desmoronado e, aos poucos, num lugar onde existia vida passa a existir solidão, abandono e uma tristeza profunda. O sol já não brilha e a vontade de viver vai-se desvanecendo, dando lugar à escuridão.
No entanto, passado um certo tempo, ao observamos casas abandonadas, vemos vida a surgir em cada recanto. Umas ervas daninhas que espreitam aqui e acolá, umas flores que a salpicam de cor e uns pequenos arbustos. Também plantas e bichos, de vários tipos, passam a habitar o local. Até numa floresta, onde tudo foi dizimado pelo fogo, vemos, ao fim de uns meses, vida a despontar. A Natureza tem a capacidade de se renovar e renascer. Nós também.
A dor é parte do ser humano e, em certa parte, permeia as nossas vidas. Como a dor que sentimos pode fazer parte das experiências que nos tocaram mais profundamente, muitas vezes não a queremos abandonar. É mais fácil guardá-la e usá-la como escudo que nos protege dos outros e alimenta forças amargas. Entregamo-nos ao desgosto e ficamos num estado de autocomiseração que, em alguns casos, nos impede de ver tudo o resto. Usamos a dor como desculpa para nos abstermos de viver.
Devemos esconder a dor? Não, claro que não! Temos de assumi-la, chorar, fazer o luto, “lamber as feridas”, mas depois sacudir o pó e seguir em frente. Só temos uma vida, a nossa.
Uma das formas que temos para canalizar esse sofrimento é ajudando outros.
A capacidade de curar os outros evolui naturalmente naqueles que estão prontos para se dissociar da sua identidade dolorosa. Na verdade, a simples decisão de deixar de lado a dor que carrega é o que lhe dará forças para a redimir. Há muitas maneiras de usar a aflição que sente para ajudar outras pessoas. Só quem já passou por determinados traumas pode compreender melhor outros nas mesmas circunstâncias. Pode aproveitar a fonte de força que lhe permitiu emergir do outro lado de uma experiência dolorosa e transmitir essa força a quem ainda sofre com as suas feridas. Pode aconselhar pessoas necessitadas, mostrando-lhe os métodos que usou para conseguir sobreviver.
Ajudar os outros pode auxiliá-lo a restabelecer o seu coração. Ao canalizar a sua dor para o serviço compassivo e observar a recuperação dos outros, a sua autoestima e otimismo podem aumentar.
A decisão de estender a mão a outros pode ser a sua melhor salvação e uma forma de declarar a si próprio e ao mundo que o sofrimento não o derrotou. Muitos têm feito esse trabalho e sentido os benefícios. Enquanto ajudamos outros, ajudamo-nos a nós próprios.
Assim, nós, como parte da Natureza, seguiremos o seu exemplo em renascer a cada novo desafio, dor, perda, traição.
O coração tem a capacidade ilimitada de amar desde que não o fechemos. Deixemos as flores da vida encherem o nosso peito, mesmo que este tenha sido queimado.
Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico.