Ah, o Amor! Com letra grande, reticências, exclamações, suspiros, mágoas, traições e tristeza.
O Amor. Poético, romântico, cantado em estrofes desde tempos em que se esfuma a memória.
O Amor. Doentio, possessivo, monótono e desgastado pelos anos que passam.
“Gostar” é o verbo pelo qual começamos. Gostamos de algo, de alguém. Demonstra-se que se gosta através dos afetos. Iniciamos o processo de demonstrar afeto cedíssimo, mesmo antes de falarmos ou termos dentes. E ainda assim, com o passar da vida construímos e destruímos a forma como demonstramos afeto ou deixamos de o fazer.
Porque necessitamos dos afetos? Porque necessitamos que nos sejam demonstrados?
Felizmente podemos encaixotar e segmentar análises sobre esta questão. Então, à luz da Química, encetemos caminho:
O Amor é um complexo fenómeno neurobiológico que resulta de atividades cerebrais levadas a cabo por variados mensageiros químicos.
Para atingirmos as etapas de desejo, prazer, confiança e recompensa fartamo-nos de libertar compostos químicos que vão variando ao longo da relação.
Fase 1 – Desejo Sexual.
Testosterona nos homens, estrogénio nas mulheres. Hormonas ali a escorrer desenfreadamente desde a adolescência. E desenganemo-nos se achamos que as coisas se compartimentam numa ou duas orientações. Vivemos tempos incríveis e se continuarmos a respeitar a liberdade do outro vamos ser capazes de atestar que o Amor assume o que quer independentemente do sexo, raça ou religião, ok?
Fase 2 – Paixão.
O bater descompassado do coração, a falta de ar e de apetite, o olhar aparvalhado e os risinhos incontroláveis só porque o objeto da nossa fixação entrou na sala…tudo neurotransmissores! Noradrenalina para fazer o coração palpitar, a norepinefrina tira-nos a fome, o sono e o juizinho, a serotonina para não termos olhos para mais nada, e dopamina para a dose de felicidade constante.
(Partindo de um princípio que nenhuma das partes sofreu uma síncope entretanto, avançamos para a…)
Fase 3 – Amor.
Sim, só agora se converte aquela salgalhada de químicos em Amor e nem aqui é esotérico…mais hormonas ao barulho: oxitocina para o carinho e vasopressina que atua como quando só gostamos daquela marca de cerveja, sabem? Somos fiéis a ela. É, até a monogamia é hormonal. Pasmem-se!
Chega a hora de pegarmos naquelas 2 perguntinhas e despachar serviço.
Porque necessitamos dos afetos? Porque estaríamos tramados se não déssemos vazão à enxurrada de químicos que andam de cá para lá e de lá para cá como as manadas no livro do Cuquedo!
Porque necessitamos que nos sejam demonstrados? Não vale a pena embelezar nem discorrer num longo poema camoniano de rimas cruzadas, emparelhadas, interpoladas, encadeadas ou mistas… (bem dizia a Professora de Literatura que um dia eu ia precisar disto! Abençoada!) A verdade é que precisamos que nos demonstrem afeto porque já investimos uma litrada de vasopressina e é pena ver aquilo estragar-se.
Contudo, se tudo falhar, apanham-se os caquinhos, faz-se um Gaudí que a Capicua é boa conselheira, lançam-se os dados no Monopólio da Vida e recomeçamos na casa Partida, compramos um hotel no caríssimo Rossio e entregamo-nos de novo, com vigor e confiança à Fase 1!