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A Economia da Atenção: Quando Todos Gritam, Quem Escuta?

Vivemos numa era em que tudo à nossa volta compete por um bem cada vez mais precioso: a nossa atenção. Redes sociais, publicidade, plataformas de streaming, videojogos, podcasts, newsletters, apps, e até familiares, colegas e amigos, tudo concorre para capturar segundos da nossa presença mental. Os ecrãs multiplicaram-se. As notificações surgem a todo o momento. A sensação de cansaço mental já não está apenas ligada ao excesso de trabalho, mas também à constante dispersão provocada por tantos estímulos simultâneos.

Esta realidade designa-se por Economia da Atenção. Um modelo que não se baseia na troca de bens físicos. Foca-se na capacidade de captar e manter olhos e mentes voltados para algo, ou alguém, o maior tempo possível.

Nesta nova economia, a atenção é poder. Quem domina o foco coletivo pode influenciar comportamentos, decisões de compra, votos, hábitos. Não admira que marcas, políticos, criadores e empresas invistam milhões para estar no centro das nossas notificações. Esta dinâmica não é neutra e muito menos, ingénua. O que é feito para prender, é raramente feito para aprofundar. Aposta-se em narrativas simplificadas, e quanto mais tempo, damos ao ruído, menos sobra para o que, de facto, importa.

Por exemplo, um vídeo no TikTok é feito com cortes rápidos, música envolvente e frases impactantes nos primeiros segundos. O objetivo? Impedir que deslizemos para o próximo; um título de notícia usa linguagem alarmista: “O que ninguém te contou sobre…” ou “Isto vai mudar a tua forma de ver o mundo” que faz soar os “sininhos” mais temerosos do subconsciente, ou, ainda, um jogo de telemóvel que oferece recompensas diárias apenas por entrar.

João Tordo explora muito bem este conceito na obra Uma valsa com a morte na qual confronta o imediatismo inebriante a que chama hipnose com a capacidade de refletir e tomar decisões ao longo prazo, designando-a expansão da consciência “numa constante”endurance” física e psicológica”.

Pagamos um preço por viver imersos neste ruído. O nosso tempo de concentração diminui. Tornamo-nos mais impacientes, menos reflexivos. Saltamos de estímulo em estímulo. A leitura profunda torna-se difícil. O silêncio desconfortável. A presença rara. Mais grave ainda, perdemos soberania sobre o nosso próprio tempo. Se tudo exige a nossa atenção, então a verdadeira liberdade começa por aprender a escolher a quem ou ao quê a concedemos.

Esta disputa é feita de forma cada vez mais subtil e eficaz. Não se trata apenas de gritar mais alto, mas de saber como chamar por nós. O design das plataformas digitais, por exemplo, é pensado ao detalhe para gerar permanência: o scroll infinito, os vídeos automáticos, os alertas personalizados. Tudo é criado com base em dados sobre os nossos comportamentos, hábitos, horários e até estados emocionais.

É por isso que, muitas vezes, abrimos uma aplicação “só por um minuto” e, sem darmos conta, passaram-se mais de 40. Pela mesma lógica, os conteúdos mais polémicos, emocionais ou sensacionalista, tendem a ter maior visibilidade.

Não se trata de demonizar o digital. É necessário cultivar uma atitude mais crítica e consciente. Precisamos reaprender a filtrar, a pausar, a desligar. Precisamos reservar tempo para o que não grita, mas sussurra: uma boa conversa, um livro, um momento de tédio, um pensamento que demora a amadurecer. Não esqueçamos o papel da educação formal e familiar no desenvolvimento da atenção consciente, algo essencial desde a infância. Também a exigência de uma reflexão sobre políticas públicas escasseia. Sem isso, continuaremos a combater uma guerra desigual entre a distração programada e a consciência individual.

Nesta época em que todos querem falar, talvez o maior ato de resistência seja o de saber escutar. Quando tudo exige pressa, o maior luxo será atingir a atenção plena. Afinal, onde colocamos a nossa atenção, colocamos também a nossa vida.

Podemos treinar a dizer “agora não”. Recuperar o controlo daquilo que nos ocupa o olhar. Sobretudo, aprender a diferenciar o importante do urgente. O que tem mais valor, na maior parte das vezes, não grita.

Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico.

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