Todos mentimos de vez em quando, mesmo inusitadamente ou até sem nos apercebermos.
A mentira é uma das mais antigas companheiras da humanidade. Atravessa gerações, culturas e contextos, assumindo diversas formas, desde a pequena omissão inofensiva até à fraude completa.
Quando Carlo Collodi criou o Pinóquio, a história que toda a gente conhece, não imaginava que aquele boneco de madeira, que via o nariz crescer sempre que mentia, se tornaria símbolo global da desonestidade humana.
Há um provérbio popular que diz que “a mentira tem pernas curtas”. Nesta história tem nariz comprido. A metáfora a que o nariz de Pinóquio nos transporta é, não só um castigo visual, como também, a representação do peso da mentira. Quanto mais tentamos escondê-la, mais se torna impossível disfarçar.
Começa pequena, controlável, quase inocente, mas à medida que se avoluma, também cresce o nariz de uma maneira que deixa de ter espaço para caber. Todos temos um “nariz invisível” que aumenta sempre que somos menos verdadeiros do que deveríamos.
Mas, por que mentimos? Quais as razões que nos podem levar a isso? Há muitas e variadas razões, como humanos, falíveis, que somos. Assim como o Pinóquio mentia para evitar problemas ou castigos, assim também o fazemos para escapar a punições, julgamentos ou desapontamentos. A mentira é assim, um escudo temporário, frágil, mas conveniente.
Também temos a necessidade de agradar aos outros e sermos bem vistos. Isso leva-nos a colocar “máscaras”. Embelezamos histórias, exageramos conquistas ou escondemos falhas para corresponder às expetativas dos outros. São mentiras sociais, aparentemente inofensivas, mas reveladoras das nossas fragilidades e inseguranças.
Há quem minta para defender ou ilibar o outro. Na História da humanidade e, sob ameaça de tortura ou morte, ou para defender uma causa, quantos não se sentiram forçados a omitir a verdade?
Até que ponto temos o direito de manipular a verdade em prol de alguém ou de uma causa? Eis o dilema ético que se coloca.
Pode ser uma mentira dita “piedosa” para poupar o sofrimento de alguém, uma mentira bem intencionada. Contudo, não deixa de ser uma falsidade.
Uma das mais comuns, no entanto, é a que se faz por interesse próprio. Mente-se para obter vantagens, para subir na hierarquia, seja ela qual for, ou para ganhar tempo ou poder. Esta só reflete o lado egoísta da condição humana.
Quais são, então, as consequências da mentira nas suas mais variadas formas? Como na história do Pinóquio, há sempre um preço. Quando mente o nariz cresce-lhe, ele é impedido de se mover, de interagir, de ser livre.
A lição que se retira: a mentira aprisiona. Exige manutenção, produz desconfiança, deteriora relações e atinge, inevitavelmente, quem a conta.
Há pessoas, tão viciadas a contar mentiras, empolgando os seus discursos, que acabam por acreditar e integrar os cenários que criam como reais. São verdadeiros artistas de teatro, encarnam vários personagens.
Quanto maior a mentira, maior o distanciamento do outro. Como acontece com Pinóquio, mais afastados ficamos do que realmente somos. Esta distância pode atingir um resultado insustentável.
A VERDADE LIBERTA.
No fim da história, Pinóquio aprende que apenas a honestidade e a verdade o podem transformar num ”menino de verdade”.
A metáfora é simples: só quando nos afastamos das nossas máscaras, nos podemos aproximar da nossa verdadeira essência.
Ser honesto nem sempre é fácil. Exige coragem, humildade e muitas vezes, desconforto. Mas é o único caminho que não nos obriga a carregar narizes crescentes e invisíveis ao longo da vida.
Nota: Este artigo foi redigido segundo as normas do Novo Acordo Ortográfico.
Boa dissertação sobre a verdadr