Vivemos cada vez mais conectados tecnologicamente, no entanto, mais distantes fisicamente ou emocionalmente. A esta vida digital, mediada por ecrãs, redes sociais e dispositivos, apelido de televida: tele, do grego longe, e vida, do latim vivere — uma vida à distância.
Um dos maiores desafios da vida moderna é compreendermos o impacto que o telemóvel tem nos nossos dias, no nosso bem-estar mental e nas nossas relações. O vício pode ser tão profundo que não tomamos consciência da quantidade de vezes ao dia que verificamos as notificações ou do tempo que passamos a fazer scroll. Pode até já ter dado por si a pegar no telemóvel sem se recordar do motivo por que o fez. Verificamos o telemóvel sempre que vibra, sempre que toca, sempre, mesmo que não faça nada. Por que motivo o fazemos? Vício, ansiedade ou tédio?
Tomar consciência deste comportamento é um passo importante para conseguir identificar o motivo e conseguir combatê-lo. Reflita sobre a necessidade real que sente e o Síndrome de FOMO, sigla que advém da expressão inglesa “Fear of Missing Out” e que descreve o sentimento de ansiedade ou preocupação sentidos por pensar que está a perder algo importante ou por ficar sem saber o que as outras pessoas estão a fazer. Apesar da sensação de estar em muitos lugares ao mesmo tempo, poder parecer tentadora, em última análise, não está em nenhum lugar por completo. Perceba que largar o telemóvel não é sobre perder algo, mas sim, sobre ganhar tempo e espaço para a vida real acontecer.
O contacto humano e as conversas cara a cara são mais ricos e têm particularidades que os ecrãs não conseguem transmitir, tais como expressões, silêncios ou toques. Devemos voltar a valorizar estes momentos e esforçarmo-nos por recordar que nenhuma notificação é mais importante que o momento que estamos a viver. Ouvir com atenção, observar o ambiente, apreciar a companhia, abrandar, pequenos momentos que contribuem bastante mais para a nossa saúde mental do que qualquer vídeo da rede social.
Pode parecer mais fácil dizer do que fazer, dada a inevitabilidade do mundo digital que nos rodeia. Contudo, pode criar momentos offline intencionais. Algumas das dicas que já utilizo no meu quotidiano são desativar as notificações das aplicações e, regularmente, fazer caminhadas sem levar o telemóvel. Para além disso, trocar o meu smartwatch que se acendia com mensagens a cada cinco minutos por um relógio analógico, livrou-me de muita ansiedade desnecessária. Experimente fazer também um “detox digital” e verá que o mundo não acaba e que se torna até mais interessante.
Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico.