Quando os nossos pais não nos deixam ganhar asas e voar, sendo demasiado protetores, de que forma é que isso nos irá definir enquanto adultos? Que tipo de adultos seremos?
Um pai é sempre protetor? Até quando são mães ou, sobretudo, quando são mães? Talvez haja algum machismo na frase anterior — as mães são sempre protetoras? Só não são protetores se não estiverem presentes. E, mesmo ausentes, com a idade, vamos ficando mais isolados e a precisar de cuidado mútuo. Vamos ficando velhos, as/os filhas/os dão-nos netas/os.
Os avós são mais ternos. Estragam o que os filhos demoraram horas a ensinar. Mimam mais, sabotam a educação dos pais, seus filhos. Não há ensinos para o ser pai. Nisto da vida não há experiência, somos cada um de NÓS uma experiência a voar em movimento. Não está nada estipulado, há quem voe muito em rodopios alegres e vaidades, e há quem não tenha para isso habilidade. Seremos sempre aprendizes de voadores, de um ser em construção. E o mundo muda tanto, cada pessoa muda tanto.
Há uma educação a ser feita pelos filhos, também. Antes de serem pais, aos pais deles. ELES ensinam e tornam melhores os pais. Isto da vida (também) é engraçado por ser interdependente, todos dependemos uns dos outros, tenho a sensação de que repito esta ideia muito, mas porque faz sentido aqui. A vida vem-se criando por trocas e heranças, partilhas. Quem tem irmãos precisa de orientar a educação em conjunto. Por períodos, anos e temáticas; quem é filho único tem um quadro melhor, mais simples. Nunca fui filho único, nem tive pais demasiado protetores.
Normalmente, temos a tendência para entender a educação passada dos mais velhos para os mais novos, dos mais experientes para os mais novos e inocentes. E há uma autoridade ganha nisso mesmo, por quem tem o cabelo mais grisalho. Mas se em todos os grupos há mais ou menos conflitos, se és demasiado protegido na tua educação, é porque tens alguma responsabilidade nisso mesmo. Desde que nasces, à medida que cresces, tens de fazer por ti. E os teus pais não são inimigos, nem adversários — não devem ser, pelo menos.
É um esforço conjunto sermos melhores, tornarmo-nos pessoas. Netos, sobrinhos, filhos, avós, tios e pais. Estamos todos numa mesma amassadeira onde somos massas a amassar.