O preço do silêncio e da injustiça

Here on the slopes of hills, facing the dusk and the cannon of time
Close to the gardens of broken shadows,
We do what prisoners do,
And what the jobless do:
We cultivate hope.

Under Siege, Mahmood Darwish

Com o fim da Primeira Guerra Mundial, época marcada pela queda de inúmeros impérios, diversas nações surgiram no mapa político da Europa e Médio Oriente. Uma das formas que os ingleses e franceses tiveram para derrotar o Império Otomano, foi estimular a insurreição das suas províncias. Assim, como relata Sir Lawrence, procurou-se aliciar o levante árabe do Hejaz com promessas de independência.

A História, como Sir Lawrence já sabia, mostrou que a maioria das promessas nunca foram cumpridas. No fim da guerra, o Império Otomano foi, em grande parte, dividido entre a França e o Reino Unido, baseado no Acordo Sykes-Picot. Como aconteceu em África, potências europeias desenharam as fronteiras a regra e esquadro.

Logo em 1917, com a Declaração de Balfour, estabeleceram-se os princípios da criação de um Estado judeu na Palestina. As ambições da criação de um Estado judeu na idade moderna remonta a meados do século XIX num contexto do ideal de Estado-nação, no qual cada nação deve ter o seu Estado. Iniciou-se um processo de aquisição de terras e imigração de judeus para a Palestina. Contudo, aquando da Declaração de Balfour, os judeus eram um grupo minoritário de 7% do total da população.

O redesenho das fronteiras na região e da decisão unilateral das potencias coloniais europeias, não se preocupou em consultar a população que durante séculos ali residia. Nos gabinetes onde se partilhou os territórios, ali era terra desolada, de ninguém. A ideia de uma terra vazia foi, aliás, mais tarde utilizada pelos sionistas para justificarem a ocupação ilegal que se seguiu. Contudo, foi em 1948 que uma Resolução 181 das Nações Unidas estipulou a solução de um território para duas nações. Pela primeira vez desde que o Império Romano conquistara a Palestina em 63 AC, haveria um Estado judeu naquele território. A polémica divisão pressupunha que 67% da população local (maioritariamente árabe) ficaria com um Estado não contíguo e que era 45% do território, enquanto 55% seria para a Estado de Israel, a população minoritária.

Este contexto histórico é necessário para entender a complexidade do problema palestiniano. As notícias relatam frequentemente ataques contra alvos israelitas; por vezes, até vemos a Cúpula de Ferro israelita intercetando rockets lançados por palestinianos. Poder-se-ia pensar que, realmente, os israelitas são as vítimas. Porém, nunca é noticiado a realidade dos colonatos, das famílias palestinianas expropriadas para que judeus ocupem as suas propriedades. Alguém imagina viver toda uma vida, como todas as gerações anteriores, criar memórias, para depois alguém reivindicar a posse porque os seus antepassados ali viveram há 2000 anos? Significa isto que os palestinianos que ali residem, também há milénios, apenas com a diferença de professarem uma fé diferente, estão condenadas a serem como estranhos na sua própria terra?

Durante o mês sagrado para os muçulmanos, soldados israelitas entram, agridem e prendem pessoas dentro de uma das mais importantes mesquitas no islão. Alguém imaginaria um grupo de soldados entrar na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima durante o 13 de maio, agredir e prender pessoas?

O plano de um território para dois países foi absorvido pela política de apartheid do Governo israelita. Assim que terminou o mandato britânico na Palestina, Israel desencadeou a primeira israelo-árabe, ao expulsar, pelo menos 750 000 pessoas e ocuparem 78% do território que não lhe pertencia na divisão acordada (para explorar melhor este tema, sugiro ao leitor a pesquisa sobre Al-Nakba). Esta ocupação não ficou no passado. Ainda hoje, os colonatos são uma realidade, onde se estima existirem 600 000 e 750 000 israelitas divididos entre 250 colónias (e os números continuam). Um palestiniano que se movimente na sua própria terra tem de enfrentar 700 obstáculos nas estradas, 140 dos quais são pontos de controlo.

A ânsia israelita de retornar a um território que foi seu há 2000 anos, reunindo num território um povo disperso, está a causar uma diáspora de outro povo, que não é invasor, mas também ali pertence. Em cerca de 13 milhões de palestinianos, 48% vive fora da sua terra natal. Na ânsia de nunca mais serem oprimidos e segregados em guetos em países estrangeiros, oprimem e violam os direitos humanos mais básicos.

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