Quando, em 2008, Barack Obama assumiu a presidência dos Estados Unidos da América (EUA), para muitos tratava-se da abertura de um novo caminho para a prosperidade. A fé era tanta por ver pela primeira vez um afro-americano a liderar a maior potência económica mundial, que, no ano seguinte, em 2009, o novo presidente dos EUA acabaria por vencer o Prémio Nobel da Paz. O que não esperava Obama era passar todo o seu mandato a tentar resolver os problemas financeiros de uma crise comparada por muitos à de 29. Quatro anos depois de ter assumido o comando dos EUA, o país contínua à procura de soluções para retomar a prosperidade do pós-guerra, num crescimento já considerado por muitos especialistas como “muito morno”.
Os antecedentes
A situação de instabilidade económica que se vive hoje em dia neste país da América do Norte começou a desenhar-se, em 2005, com o “boom” no sector imobiliário, que permitia que famílias com menos recursos comprassem imóveis, recorrendo a juros mais baixos e de financiamento a longo prazo. O que levou a que instituições de várias partes do mundo, como a Fannie Mae e da Freddy Mac, começassem a investir em massa nas imobiliárias norte-americanas.
O crescimento do sector imobiliário nos EUA acabaria por explodir em 2007 e tomou proporções imparáveis. Face a isto, o governo decide aumentar os juros, de modo a travar o crescimento da inflação, mas o resultado acabaria por ser catastrófico para as famílias norte-americanas. Os preços dos imóveis caíram, milhões de famílias ficaram impossibilitadas de continuar a pagar os seus financiamentos e a dívida para com os bancos internacionais multiplicou-se rapidamente. Os bancos, por seu turno, sem receber o que lhes era devido, também não conseguiram vender com os preços originais os milhões de casas devolvidas, uma vez que o excesso de oferta de casas acabou por fazer o preço dos imóveis baixar. Em resumo, tinha arrebentado a Bolha Imobiliária americana.
Em Janeiro de 2008, aquando da tomada de posse de Obama, a dívida hipotecária do país já ultrapassava 1 trilião de dólares e o risco estimado era de 12,3 triliões, o que correspondia a 89% do PIB americano. Empresas de renome, como a Sony, a Caterpillar e a Citigroup anunciaram perdas recorde, e a taxa de desemprego já tinha duplicado, passando de 4%, em 2005, para 8%, em 2008. Em Agosto do mesmo ano, a crise aprofunda-se, com a falência quebra do banco Lehman Brothers, demonstrando, deste modo, a fragilidade do sistema bancário-financeiro norte-americano e internacional.
A crise agrava-se ainda mais no último trimestre de 2008 e, no primeiro trimestre de 2009, registaram-se as maiores quedas do PIB, como na produção industrial. Perante este descalabro económico, no segundo trimestre de 2009, o Governo norte-americano decide injectar um trilião de dólares no seu sistema financeiro com o objectivo de atenuar as perdas dos bancos. A iniciativa acabou por se revelar um fracasso, uma vez que a dívida do país continuou inabalável. Já não restavam dúvidas que não se tratava simplesmente de uma “crise cíclica”, como as analisadas por Marx em O Capital, mas de uma crise profunda e com uma duração maior.
Quatro anos depois
Passaram quatro anos e o estado da economia contínua a ser a maior preocupação do povo americano, uma característica que se reflecte nas campanhas eleitorais de Obama e de Romney, que têm tido como tema central a situação débil que ainda se vive no país. Inclusive, Barack Obama não se inibiu recentemente de pedir aos americanos mais quatro anos para tirar definitivamente os EUA da rota da crise mundial, demonstrando que todos os americanos têm a plena consciência que os problemas que sofreram com a grave crise financeira, económica e social, em 2007/2008, não foram totalmente superados. A taxa de desemprego fixada nos 8% é prova disso mesmo. “Hoje temos 23 milhões de pessoas desempregadas, ou que pararam de procurar emprego”, acusa constantemente o candidato Mitt Romney.
A realidade é que as expectativas foram demasiado elevadas e Barack Obama não conseguiu fazer milagres, durante estes quatro anos à frente dos EUA. A recuperação tem sido lenta, agravada, este ano, com a queda das exportações e da perda da confiança das empresas e consumidores, por causa da crise que se vive na Europa. Aliás, o Fundo Monetário Internacional (FMI) já baixou uma vez mais (este ano já é a terceira vez) a previsão de crescimento da economia americana. Segundo recentes estimativas, a maior economia do mundo crescerá apenas 2%, em 2012, um pouco abaixo da previsão de 2,1% anunciada em Abril. Para Christine Lagarde, actual Directora-Geral do FMI, este é um crescimento “morno”.
A estratégia seguida por Obama resume-se essencialmente numa política apelidada de “Resgate dos Grandes”, com a qual se salvaram os grandes bancos, as grandes empresas e os mais ricos, mas levou a que a economia estagna-se, porque os consumidores continuaram endividados, desempregados e sem casa. Quanto ao sistema financeiro continuou desregulado. Ben Bernanke, o Presidente da Fed, admitiu, em conferência de imprensa, “poder vir a considerar” discutir um terceiro programa de “alívio quantitativo” (quantitative easing, QE). Este “alívio quantitativo” é distinto da compra de títulos de Tesouro, porque, neste caso, a Fed compra, no mercado, activos financeiros de bancos e outras entidades privadas, através da emissão de dinheiro eletrónico, com vista a aumentar a liquidez. O QE1, nos EUA, decorreu de Novembro de 2008 a Março de 2010 e envolveu 1.425 mil milhões de dólares, enquanto que o QE2 foi de Agosto de 2010 a Junho de 2011 e envolveu 600 mil milhões de dólares.
Recentemente, Robert Hockett, professor na Universidade de Cornell, alertou à Agência Efe que as medidas monetárias adoptadas não chegam para melhorar a situação económica dos EUA. Segundo Hockett, a solução “não é por aí”, embora ajudem a médio prazo, “com o tempo será necessário enfrentar o problema fiscal”. Acrescentando que é “incrível” como se fez tão pouco para solucionar o problema de um “círculo vicioso” de retração do consumo e desaceleração da economia, “porque, em vez de consumir, as pessoas estão afogadas com as dívidas hipotecárias”. Finalizando que, “se não agirmos, podemos deparar-nos facilmente com uma década perdida, como já ocorreu no Japão, nos anos 90. Já passaram quatro anos e ainda não há sinais de que estejamos a levar as coisas a sério”.
O que parece estar a acontecer nos EUA é um problema crónico de crescimento. Não é que as medidas não tenham sido adoptadas de modo a reerguer a economia, mas fica sempre a impressão de que era possível fazer mais. Ainda em Agosto foi anunciado pelo Departamento de Trabalho a criação de 96 mil empregos. Contudo, o número ficou muito aquém dos esperados 125 mil esperados pelos economistas. Este fraco crescimento daquela que é considerada a maior economia do mundo tem suscitado imensas dúvidas, especialmente nos últimos tempos. Um exemplo dessa desconfiança é a Agência de Classificação de Risco Moody’s, que já alertou que, independentemente, dos resultados das próximas eleições, em Novembro, os americanos correm o sério risco de perder a sua nota máxima de AAA, caso o Congresso não encontre novas medidas para reduzir a médio prazo o deficit da dívida pública do país. A equipa liderada por Barack Obama, por seu turno, contínua a garantir que os EUA vão conseguir sair da estagnação nos próximos 18 meses e que o crescimento económico vai voltar ao normal.
Só o tempo dirá se Obama tem ou não razão, para já é certo para todos que os americanos necessitam de incrementar novas medidas, que estimulem o consumo e a empregabilidade, e só quem tiver o melhor plano para encher os cofres americanos sairá vitorioso nas próximas Eleições Presidenciais, a 6 de Novembro de 2012.