O perfeccionismo é a voz do opressor, o inimigo do povo. Ele vai manter-te apertado e louco a vida inteira.“
Anne Lamott
A procura pela perfeição aprisiona.
Num mundo onde as luzes do desempenho académico brilham intensamente, muitos jovens se veem a dançar sob a pressão de expectativas que se acumulam como nuvens pesadas. Ser estudante tornou-se, por vezes, um fardo invisível, onde as notas são flechas lançadas, atingindo o coração das aspirações e dos medos. O esforço e a ambição são os alicerces do crescimento, mas com limites. A inspiração transforma-se em sufoco e a procura pelo êxito assemelha-se a um labirinto sem saída.
Os pais desempenham um papel crucial neste processo. Muitos desejam que os filhos alcancem o sucesso que eles próprios não tiveram, ou apenas querem garantir que o futuro dos jovens seja promissor. No entanto, essa ânsia, ainda que bem-intencionada, pode transformar-se numa sobrecarga. Frases como “tens de ser o melhor”, “não podes falhar” ou “tens de entrar na melhor universidade” são comuns, mas podem ter o efeito oposto: em vez de motivar, provocam ansiedade e medo do fracasso.
Também os professores, na sua missão de preparar as novas gerações para um mundo competitivo, carregam uma grande responsabilidade. Sabem que, lá fora, o mercado de trabalho é exigente, e esforçam-se para capacitar os alunos da melhor forma possível. No entanto, a ênfase excessiva dada às notas e exames, muitas vezes, em detrimento de outros métodos de avaliação, pode transformar a educação numa corrida desenfreada pelo resultado, em vez de uma procura saudável pelo conhecimento.
Depois, temos os colegas. A pressão não é apenas externa — ela nasce também do próprio grupo, onde a comparação constante se torna inevitável. O ambiente escolar, que deveria ser um espaço de crescimento coletivo, dá lugar a um campo de batalha. Cada estudante tenta provar que é superior, numa dinâmica que pode corroer a confiança dos mais vulneráveis, pois começam a duvidar das suas capacidades.
Assim, surge uma pergunta crucial: até que ponto a pressão molda — ou, pior, transforma — os jovens? Estaremos a criar uma geração com tanto medo de falhar que já nem se atreve a arriscar?
O medo de não ser “bom em tudo” gera angústia que pode perdurar pela vida, criando indivíduos que, à partida, evitam desafios por receio de não corresponderem às expectativas. Os estudantes sentem, inúmeras vezes, que não têm margem para errar, esquecendo que o erro é parte essencial do processo de aprendizagem. Ao tentar moldar futuros “perfeitos”, acabam por ignorar que a perfeição é, por natureza, inatingível. O crescimento não surge apenas do sucesso, mas das tentativas, das falhas e das lições aprendidas ao longo do caminho.
É urgente encontrar um equilíbrio. Devemos incentivar a excelência, sim, mas sem sobrecarregar. É essencial ensinar os jovens a valorizar o processo tanto quanto o resultado. A cultivar resiliência, e não o medo do erro.
Só assim poderemos cultivar jovens que entendam o sucesso e que abracem com coragem os desafios inevitáveis da vida. Que se atrevam a falhar e, ao longo desse caminho de tentativas e erros, descubram o significado de ser bom — não só nos resultados, como também na essência da própria vida.
Nota: Este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico
Excelente!
Grata pela tua partilha, Laura.
Concordo. Como professora sempre vi isso. É claro que se tem agravado. Muito. Na verdade, essa pressão sai das escolas e passa para o mundo do trabalho, até do entretenimento.
Infelizmente tem vindo a agravar, sim! Muito obrigada pelo teu parecer precioso, Paula.
Um sentimento muito presente quando se estuda e não é só de agora, Talvez agora seja mais palpável pela quantidade de pessoas e pelo mercado de emprego que torna o futuro mais exigente. Parabéns por mais esta crónica.
Muito obrigada, Maria pela tua reflexão.
Muito bom, parabéns!
Muito obrigada pelo seu parecer, Cláudio.
É tão cedo para a competitividade…
É um facto, Olinda!
Um texto excelente. Concordo plenamente, muitas vezes exigimos demasiado, até de nós mesmos.
É verdade, querida colega. Exigências que carregam consequências nefastas. Muito obrigada, Sónia.