Dizem que crescer é aprender a andar com as próprias pernas. Que amadurecer é parar de esperar dos outros aquilo que só pode ser encontrado dentro de si. Que quem muito sente, muito sofre. Que o segredo da paz está em se blindar, em desligar, em repetir como um mantra: “eu sou eu, o mundo que se vire”.
Contudo, há uma solidão disfarçada de força nessa filosofia. E, talvez, uma covardia também.
Ser independente não deveria significar ser indiferente. O verdadeiro amadurecimento, no sentido mais profundo, talvez seja justamente o contrário: perceber que há dores que não são só nossas — e que, ainda assim, nos atravessam. Entender que viver em sociedade é, sim, uma responsabilidade. Que o silêncio diante do sofrimento alheio pode ser tão violento quanto a própria violência.
É claro que cuidar de si é necessário. Há momentos em que o recolhimento é vital. Mas quando isso se torna regra, quando nos especializamos em “não se envolver”, quando o “cada um com seus problemas” vira filosofia de vida — já não se trata de autopreservação, mas de negligência.
Há algo de desumano nesse culto à autossuficiência. Como se a dor do outro fosse sempre um fardo, nunca um espelho. Como se estender a mão fosse perda — de tempo, de energia, de identidade. Como se empatia fosse fraqueza, e não maturidade.
Mas quem somos “nós mesmos” quando ninguém mais importa?
Essa lógica da autossuficiência nos vende uma ideia de força que, no fundo, é só isolamento. Como se ser impenetrável fosse sinônimo de estar bem. Como se não precisar de ninguém fosse sinal de evolução. Mas será mesmo?
Crescer, talvez, seja parar de fugir. Deixar de fingir que só o que nos toca diretamente merece atenção. É parar de se proteger tanto da dor e começar, enfim, a acolher. A reconhecer que só existe “eu” porque existe “outro”. Que a nossa humanidade se realiza no encontro, na escuta, no cuidado.
Porque um mundo onde cada um cuida apenas de si é, inevitavelmente, um mundo em ruínas.
Talvez seja hora de desaprender a lógica do “eu me basto” e reaprender a linguagem do “nós”. Porque, no fim das contas, ninguém se basta o tempo todo. E quando o chão faltar — e ele sempre falta — será o outro, e só ele, que poderá nos segurar.
Nota: este artigo foi escrito seguindo as normas do português do Brasil.
Daí a importância de pertencer a uma “comunidade”, a necessidade de se sentir integrado
Exatamente! Nossa força e humanidade se revelam na conexão com os outros. Pertencer a uma comunidade nos lembra que nunca estamos realmente sozinhos. Obrigada pelo comentário, Vera. Beijinhos.