Podemos falar de sexo?

Hoje apetece-me falar de sexo. É um direito que me assiste e uma vontade que tenho. Para chegar aqui foi preciso que alguém usasse o seu sexo, em contacto com um outro e resultasse a fusão das duas células sexuais. Espermatozóide e óvulo em festa e pimba! ovo que depois cresce e, 9 meses mais tarde, aparece alguém a dar o ar da sua graça.

No entanto, não é deste tipo de sexo que quero falar. É do sexo puro e duro que se faz quando há vontade e não obrigação. Do sexo atraente e sem preconceitos, daquele que se torna tão atractivo que não conseguimos resistir. Do sexo que nos dá satisfação e que queremos partilhar com o outro.

Todos temos corpo e, apesar das diferenças, os corpos masculinos e femininos conseguem experimentar sensações idênticas. É sabido que os homens são mais visuais, que respondem mais a estímulos externos e que as mulheres enveredam por outro caminho, mais interior.

Fomos ensinadas a ser reservadas, a não mostrar os nossos sentimentos e muito menos os desejos. Resquícios da educação judaico-cristã imposta, durante séculos, e que tinha como função formar “boas mulheres”, recatadas e dedicadas à família, marido e filhos. Balelas!

Hoje em dia quem é que acredita nessas ideias e quer que as suas filhas sejam castradas sexualmente? Penso que ninguém. Já bastou as antecessoras terem sido vítimas de má formação e de preconceitos ridículos. Agora cabe a nós, mulheres do século XXI criar seres completos e que saibam fazer as suas escolhas livremente.

É sabido que ainda permanecem os casamentos arranjados, sobretudo entre os ciganos e algumas famílias, mas a maioria não cai nesse conto, já tão batido e gasto. As mulheres escolhem os seus parceiros, permanentes ou temporários e só a elas diz respeito.

Se durante anos o homem assumia o comando da conquista, dava o primeiro passo e a mulher estava sempre à espera, porque não pode ser diferente agora? A mulher também sente, tem desejos e vontades, porque não os satisfazer como os homens? Porquê a diferença de tratamento?

A dois é sempre melhor, tem outro sabor a partilha, a intimidade, o momento que se vive em conjunto, o toque do outro, a sua pele, as suas sensações, o seu cheiro, a sua satisfação. Momentos de simbiose nem sempre conseguidos, mas tentados. O calor que se reparte e a energia que se consegue é sempre singular.

Porém, se o prazer tiver que ser solitário? Falar de sexo solitário é comum entre os homens mas será que as mulheres falam sobre o assunto? Somos seres que têm as mesmas necessidades que os homens, apesar de ainda se pensar que não. Não me parece que andemos a fazer maratonas mas o sexo é bom e queremos.

Tudo o que seja solitário tem um lado menos aprazível e mais macambúzio. Sexo é sempre melhor a dois, a partilhar, a descobrir, a viajar no corpo do outro, a retribuir, a querer cada vez mais e melhor. O sexo também tem qualidade. Não basta uma coisinha rápida, já está, é preciso mais dedicação e aprumo.

Devia ser obrigatório que o sexo fosse demorado e retribuído. Sim, a pensar no parceiro, naquele que está com o outro e que também sente e precisa de sentir que é desejado, que é importante e que é tido em consideração. O desejo não desaparece, pode é ficar um pouco camuflado.

E se nos despíssemos de preconceitos? Não precisamos de despir mais nada, podemos deixar a imaginação fluir, mas avancemos sem medos. Se nos vamos retrair, nunca mais existe consenso. Sexo é importante e faz parte do equilíbrio do ser humano. O prazer é saudável e bom.

No início, existe o medo, o papão que não deixa fazer nada, que nos inibe e nos atrofia. Enfrenta-o. A atracção está lá, liga o teu motor sexual e avança. Vai até onde consegues. Sê audaz e verás como os frutos são doces e saborosos. Ensina-lhe o caminho e aprendam juntos, percorram os caminhos que entenderem e deixem-se ir até ao limite.

Não interessa se os corpos estão trabalhados, se cumprem um determinado parâmetro. O que importa é o magnetismo, aquilo que impele a ir ter com o outro, a entrega e a dedicação. O prazer é algo de extraordinário e não pode nem deve ser retraído. Onde está o problema? Só na cabeça de cada um.

Hoje quero muito falar de sexo, sem tabus nem palavras enroladas que nada dizem e que só servem para camuflar o que interessa. Não se pretende ser politicamente correcto com este artigo, mas sim que seja esclarecedor e pedagógico, o que, já de si parece ser uma tarefa complicada.

Os homens talvez tenham mais à vontade porque o seu sexo físico é exterior. Conhecem-no melhor, já o miraram vezes sem conta, precisam do órgão para outra função e conhecem-lhe melhor as manhas. Usam-no com desenvoltura e mestria. Vantagens da natureza.

As mulheres são mais recatas. Quer isto dizer que o seu órgão é envergonhado, mais interior e de muito pouca visualização. A menos que se utilize um espelho, o seu conhecimento profundo é mais complicado. E muitas desconhecem as suas funcionalidades totais. Partidas da natureza.

No entanto, tudo se consegue resolver quando há boa vontade. As trocas de experiências, as descobertas e as aventuras que os mesmos podem proporcionar são demasiado aliciantes para serem recusadas. Porque não sermos nós a avançar e dar o primeiro passo? Somos incompetentes? Quanto muito somos mais cautelosas mas é tudo uma questão de tempo.

As mulheres devem libertar-se dos estigmas que persistem em continuar. O desejo é universal e necessário, faz parte da cada um. Deixemo-nos de velhas linguagens, de roupagens velhas e inúteis e passemos a aproveitar o que a vida possa oferecer. Quem sabe ver o lado positivo da vida é sempre muito mais feliz!

De nada servem os falsos moralismos e as mentes infectadas daqueles raciocínios ultrapassados porque, como se costuma dizer, mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo. E nestas questões de sexo não existem nem deficiências e muito menos puritanismos. Aproveita a plenitude e goza o teu corpo em liberdade.

Deixa-te ir até onde conseguires, usa a imaginação, o que quiseres, porque, no que toca a sexo e prazer, não existem nem barreiras nem limites. Envolve-te e chega ao teu céu, aquele que fica lá tão longe, tão longe, que só tu conheces.

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