Somos possivelmente o animal mais dependente à face da Terra. Um ser naturalmente carente que precisa além de coisas, de pessoas, para alcançar a plenitude. Era Aristóteles que o dizia no seu tempo, mas como não concordar? Vasculhando os nossos primórdios, verificamos a verdade crua e dura: nunca conseguimos viver completamente sozinhos. A culpa é possivelmente da Natureza que nos criou frágeis, sem garras e sem uma pele resistente às intempéries e aos ataques dos predadores. Seja como for, não há como fugir do destino.
Ninguém é uma ilha, toda gente precisa do outro para sobreviver. Desde muito cedo que o Homem percebeu isso. Quando andava perdido entre as montanhas à procura de alimentos não quis estar sozinho, juntou-se a outros. As tarefas eram divididas: o homem caçava, a mulher cozinhava. A comunidade começou assim a ser construída, sob a base de que cada qual deve completar o que outro necessita. Tudo pela satisfação das necessidades.
Há quem acredite que na essência da comunidade está o desejo da união, independentemente de se tratar de uma família, um grupo, ou uma cooperação por motivos profissionais. Aristóteles concorda: “o Homem é um animal social”. Incapaz de viver um sem o outro, “destinado a viver em sociedade”. A sociabilidade faz parte do seu ADN.
Ao viver em comunidade, os seres-humanos protegem-se mutuamente. Seja para enfrentar a natureza, ou para atingir os mesmos objectivos. A união faz a força. Uma das características mais marcantes do Homem é tirar proveito dos outros para benefício próprio. O grupo acaba por ser um refúgio das forças. No fundo, é uma relação de conveniência. Tal como argumentava o filósofo Tomás de Aquino, “o Homem é essencialmente sociável: por si só não pode satisfazer as suas necessidades, nem realizar as suas aspirações; somente pode obter isto em companhia dos outros.”
Sozinho não conseguiria sobreviver. Em relação aos restantes animais, só tem uma única vantagem: a racionalidade. É verdade que é capaz de criar engenhos, mas com a colaboração dos da sua espécie. As necessidades são tantas: educação, segurança, saúde, casa. Sem ajuda, seria impossível de as suprimir a todas. É essencial uma mútua colaboração. Por isso mesmo, é necessário numa sociedade o médico, o professor, o varredor do lixo, o polícia, o agricultor, entre outros. Realidade ilustrada na citação de Leonel Franca: “o convívio dos seus semelhantes é-lhe tão imprescindível como ao peixe a água e aos pássaros a liberdade dos ares”. Todo o Homem depende do auxílio do outro. Ninguém consegue ser feliz sozinho, é a nossa natureza. Somos “homo socialis”.
Um tema pertinente. Agora que chegamos a um ponto em que milhares de idosos são lançados ao abandono. Morrem sozinhos em suas casas, sem auxílio, ou em lares e em hospitais completamente descartados. Pobreza maior do que a que estar só não existe. Mais do que o princípio de união, o que nos move (ou deveria mover) é o amor.
Para que uma comunidade seja íntegra e saudável, deve estar baseada no amor das pessoas e no interesse pelo próximo.
– Millard Fuller