É mais fácil não sentir. Passar pela vida sem permitir que o nosso corpo ressinta as dores que trazemos na alma. É mais fácil não parar para pensar, não parar para perceber o que sentimos por determinadas pessoas, não parar para perceber que sentimos falta de tantas outras. Não parar. Não pensar. Não sentir. Não sofrer.
Vivemos inebriados. Ofuscados. Desorientados. Dormentes. Essa dormência acompanha-nos ao longo do dia-a-dia, da rotina imparável que vivemos. E é por isso que, quando nos permitimos sentir, choramos, sofremos, gritamos, não sabemos lidar com o que se passa dentro de nós. É difícil lidar com algo que passamos o dia a tentar negar. E é, normalmente, à noite que tudo nos assombra. O medo, a saudade, o amor, a ansiedade, o nervosismo, a tristeza.
Tudo nos assombra à noite, antes de dormir, quando deitamos a cabeça na almofada e não pensamos em trabalho, em aulas, em estudos, em contas para pagar ou em problemas que tentaremos resolver amanhã, sempre amanhã. É quando temos a mente vazia de preocupações que tudo nos magoa, tudo nos faz sentir, tudo nos causa tristeza. Tentamos desviar o pensamento, mas não conseguimos. E pensamos naquele amigo que perdemos, naquele amor que já não o é, naquele sonho que não conseguimos realizar.
E é por isso que não sentir acaba por nos fazer mal – porque, quando finalmente saímos desse estado de dormência, sentimos tudo em dobro. E o que podia doer um pouco dói demasiado. E a saudade que até é ligeira deixa-nos despedaçados. E os medos que eram absurdos ganham forma e tornam-se reais. E a ansiedade piora. E o nervosismo aumenta. E a tristeza desfaz-se em lágrimas. Porque tudo, absolutamente tudo, é pior à noite. E porque tudo ganha maior substância quando esteve preso algures em nós durante todo aquele tempo em que quase nos obrigámos a estar dormentes.
Como me identifico com este texto! 🙁
Retrata na perfeição as noites mal dormidas dos meus últimos meses.
Espero por dias melhores.
Obrigado pela partilha.