O mundo enfrenta uma nova ordem mundial, sobretudo o mundo ocidental. As potências mundiais viraram, sem qualquer sombra de dúvida, para o extremo da família da direita política. Os valores conservadores exacerbados aliados aos interesses de grandes grupos económicos poderão estar na base de uma nova organização social, na qual os mais pobres e os mais fracos ficarão desprotegidos, sem estarem albergados pela existência de um Estado Social forte.
E já se sabe, quando as nações mais poderosas do mundo dão o mote, a tendência natural é para serem seguidas pelas restantes. Basta olharmos para países como a Hungria onde o governo de tem implementado políticas anti-imigração e conservadoras, e a Polónia que tem implementado reformas judiciais e políticas conservadoras, e observamos como se fecha a porta a todos aqueles que saem da norma.
Desde que o executivo do presidente Donald Trump tomou posse no início de 2025 podemos falar de uma verdadeira tragédia americana. São várias as diretrizes que destroem o trabalho de décadas, colocando na gaveta medidas progressistas que tinham em vista o bem comum, tecendo as bases de uma sociedade mais igualitária, fraterna e justa. Estas medidas surgem a uma velocidade supersónica, deixando o comum dos mortais abalado tanto pelas medidas em si como pelo seu impacto quase imediato.
Pensemos no caso do negacionismo climático. Como é possível Trump afirmar que não vivemos numa época de alterações climáticas? As consequências do sobreaquecimento do planeta Terra estão visíveis aos nossos olhos. O degelo das calotes polares, os fenómenos climáticos extremos como as vagas de calor cada vez mais frequentes, as inundações e enchentes que destroem tudo à sua passagem, os fogos de grandes dimensões que destroem as nossas florestas ou as tempestades intensas que causam o caos estão em todos os canais de notícias por esse mundo fora. As consequências para as populações são enormes, com perdas humanas e materiais. Perante isto, como negar que a calamidade climática é a nova realidade? E o negacionismo é reforçado, entre outras medidas, com a continuidade de exploração das minas de carvão ou a eliminação de vários limites legais da poluição da água, já para não mencionar a recusa de cooperação internacional.
As leis da imigração são um outro desastre. Dando continuidade à política levada a cabo durante o seu primeiro mandato, as medidas e as suas consequências dividem os americanos em cidadãos de primeira e de segunda. E geram escalas de importância de seres humanos, com os imigrantes na base e os americanos, em diferentes escalas, no centro e no topo. A ideia de uma supremacia branca e cristã está a ganhar contornos gigantescos precisamente no país que é o maior melting pot do mundo. Expulsar seres humanos em busca de melhores condições de vida, que contribuem com os seus ordenados e impostos para o desenvolvimento económico do país, parece um contrassenso económico. Diria um contrassenso social também, já que muitas dessas pessoas se dedicam a trabalhos que os americanos não querem executar. Mas fazê-lo de forma indigna e sem o mínimo respeito pelos direitos básicos do ser humano é hediondo.
Foquemo-nos ainda nas medidas de protecionismo económico que estão a ser decretadas. As famosas tarifas comerciais, que taxam produtos estrangeiros, são publicadas frequentemente, com avanços e recuos constantes, numa dança anedótica. Donald Trump pretende, desta forma, revigorar a economia americana, parecendo ignorar que o mundo não é o mesmo desde que esta estratégia foi utilizada pelos presidentes norte-americanos Nixon e George W. Bush.
Podemos recuar ainda um pouco mais no tempo. Vários especialistas e economistas americanos já pediram que não se cometa o mesmo erro do tempo do presidente Herbert Hoover que inclusivamente levou ao agravamento do quadro da Grande Depressão na década de 1930. Se os Estados Unidos da América entram em declínio económico sofrem os americanos e sofrem todos os habitantes deste planeta.
Poder-se-iam focar outros aspetos porque infelizmente eles existem. No entanto, talvez os mais representativos sejam os aqui mencionados. O choque é enorme quando nos deparamos com as formas que o executivo americano tem utilizado para concretizar os seus objetivos. Basta pensarmos nos campos de detenção nos pântanos dos Everglades, na Flórida, também conhecidos como Alligator Alcatraz, ou Alcatraz dos crocodilos.[1] Teletransportamo-nos rapidamente para a realidade vivida na Europa durante a ascensão e vigor do regime hitleriano.
E sim, vivemos tempos terríveis, de retrocesso civilizacional e de perda de direitos adquiridos. A liberdade é um bem precioso e frágil. A terra das oportunidades e da liberdade, do self-made man e da concretização de todos os sonhos, vive momentos de escuridão. Viveremos sobre o mote Make America Great Again até quando?
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Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico.
[1] A Prisão Federal de Alcatraz funcionou entre 1934 e 1963 e era considerada uma prisão de segurança máxima situada numa ilha isolada na baía de S. Francisco.