O dia em que percebi que sofro de Síndrome de Estocolmo

Divido a minha vida entre os afazeres familiares, a escrita, a leitura e o marketing digital. Televisão? Uma miragem. Raramente, um olhar de relance e sem interesse ao telejornal. Creio que, neste momento, me podem acusar de viver num estado de alheamento voluntário.

Contudo, a vida dá voltas e eu fui aliciada para me iniciar no culto da série “La Casa de Papel“. Coisa parva, adolescente, qual culto… uma série espanhola? Pfffffff. Dia do primeiro episódio, com a almofada em condições de acolher um sono profundo pouco depois dos primeiros vinte minutos de atenção. Quem me conhece, sabe que não é difícil encontrar-me embalada a meio do visionamento de uma qualquer longa – ou curta – metragem. Note-se, no entanto, que o problema se encontra na má qualidade dos enredos e não na minha pessoa.

Voltando à parvoíce daqueles criminosos com máscaras de Dali. Vinte minutos passados e o sono não se atreveu. Trinta minutos, nada. Episódio completo: “põe aí o segundo”. Terminado o segundo, com o cérebro a bater palminhas e as ligações neuronais iluminadas como se quer: “ai, tenho tanto trabalho, mas posso tirar um dia de folga não é? Põe aí o terceiro”.

Depois de quatro episódios seguidos, toda eu me transformei numa espécie de adolescente viciada em séries de culto. Apesar do sofrimento infligido aos meus nervos, toda eu sou pró-criminosos que fabricam dinheiro e raios-partam a polícia. Foram poucos dias de verdadeiras maratonas de “La Casa de Papel” e com as três temporadas consumidas num ápice, posso considerar que me tornei refém do sofá e dos próprios sequestradores.

Tragam o merchandising, a Nairobi e o Professor, que me fizeram passar para o lado errado – ou certo? – da estória. Digam à Tóquio para parar de se meter em confusões e à Lisboa que não largue o Sérgio. Helsínquia, és um gigante sensível. Berlim, o gangster mais envolvente de sempre. Arturito, me haces nerviosa! Abaixo os governos, a corrupção e a burrice.

Vistam-me o fato de macaco vermelho e deixem-me chorar por detrás da máscara de Dali, enroscada no sofá, até que chegue a quarta temporada. Ou, então, enfiem-me no cenário do próximo assalto, porque isto, porra, é melhor que Hollywood!

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