Há 2 meses, o presidente do maior país do mundo invadiu, sem justificação válida, um país vizinho. Há 2 meses que vivemos afogados em imagens e relatos de uma barbaridade que a minha geração nunca pensou assistir, muito menos à porta de casa. Quando a dor é nossa vizinha tem tendência a magoar mais. O mundo arrumou as máscaras pandémicas, agigantou-se e rumou às fronteiras da Ucrânia carregado de mantimentos e de esperança para ajudar crianças e mulheres que deixam os seus homens em combate.
A NATO e a UE mandam dinheiro e armas e tentam afogar a economia russa com sanções. Se os esforços são poucos? Diria que sim, fora a complexidade das relações internacionais, estamos perante uma agressão desmedida e sem qualquer tipo de legitimidade de um país autocrático a um país democrático. Tirando um conflito armado, aberto e declarado do mundo ocidental contra a Rússia, poucos cenários são capazes de colocar um travão ao devaneio maquiavélico de Putin.
O fim do império soviético continua a ser uma espinha atravessada nas elites governativas russas e a Ucrânia, ao pôr em cheque o saudoso imperialismo com alianças militares contrárias, faz tremer o gigante de pés de barro. Os pretextos são quase anedóticos e passam por narrativas de desnazificação e libertação dos ucranianos oprimidos. Não há argumento ou justificação que valha a Putin perante esta invasão sem qualquer tipo de nexo. O mundo vai assistindo em directo e incrédulo.
Hoje, dia 21 de Abril de 2022 (data em que escrevo este texto), num país à beira mar plantado que é dos mais pacíficos do mundo, assistiu-se ao discurso por videoconferência de Zelenskyi à Assembleia da República. Os deputados dos partidos que nos representam assistiram atentos às palavras do comediante feito herói que em 2 meses de guerra envelheceu 10 anos. Todos os partidos aplaudiram Zelenskyi durante largos minutos, todos menos um. O PCP disse, através da sua líder parlamentar, que não participará numa sessão com alguém que representa um poder xenófobo e de cariz fascista. O PCP não condena a invasão da Rússia à Ucrânia. O PCP acha que um homem que implora por armas ao ver o seu país ser dizimado é tão ou mais belicista que o seu invasor. O PCP acha que as crianças mortas, as mulheres violadas e as vidas destruídas são uma consequência inevitável da vontade ucraniana de pertencer à NATO e à UE.
Não é nova a falta de elasticidade e de capacidade de adaptação ao mundo em movimento rápido do Partido Comunista, mas a sua importância histórica na política portuguesa feita de alguns episódios felizes e profícuos, davam-lhe algum sentido na malha governativa nacional. O seu encolher de ombros, quase em tom displicente, perante uma guerra descabida na Europa é revoltante. Uma vergonha assistir a um final tão diminuto de um partido com estas características. O PCP, há já algum tempo, que tem vindo a dar tiros nos próprios pés. Hoje, deu um tiro na cabeça. Que o seu fim seja documentado nos livros de história com pena, mas sobretudo com vergonha.
