Qual o sentido da vida? Esta é uma das questões filosóficas mais complexas sobre a existência humana.
Quantos de nós e quantas vezes ao longo da nossa vida pensamos em questões como: “Quem sou? Que estou aqui a fazer? De onde vim? Para onde vou? O que é uma vida com sentido?” As respostas são também elas complexas e muito pessoais. Cada um procura e percorre o caminho que lhe é mais confortável. Facto é que são perguntas que têm atravessado os séculos da história do homem e são várias as formas que o ser humano vai criando para encontrar explicações para o sentido da vida.
Estudadas e debatidas pelos filósofos, com destaque para os existencialistas[1], são também indagadas respostas noutras áreas. Para além da Filosofia, a Religião é uma outra via que insistentemente tem procurado esclarecimentos e avançado hipóteses. Para os crentes, independentemente da fé que professem, o sentido da vida é dado por um ser/entidade exterior aos humanos.
Há também quem problematize e encontre as suas repostas na ciência, no conhecimento e… na ARTE, nas suas mais variadas vertentes, incluindo a pintura, passando pelo cinema ou as artes performativas.
A arte é uma forma de expressão do ser humano, procura transmitir emoções, pensamentos, experiências. É, no fundo, uma forma de comunicação, por isso nada mais natural que os artistas problematizem também as grandes questões filosóficas. Ilustremos com alguns exemplos.
O pintor pós-impressionista Paul Gauguin é o autor do quadro intitulado “De onde viemos? O que somos? Para onde vamos?”. É uma suas das pinturas mais famosas, realizada no Taiti entre 1897 e 1898. As suas inquietações e motivações neste trabalho de grandes dimensões (139 × 375) não podiam ser mais diretas e estão bem expressas na escolha do título. Nele aborda o ciclo da vida do nascimento até à morte, com uma sugestão do que poderá estar para além dessa realidade. Aliás, diz-se que terá respondido às suas próprias questões, referindo que temos uma existência mundana e que caminhamos para a morte.
Na escultura, encontramos a enigmática obra de Auguste Rodin, “O Pensador”, um trabalho idealizado para estar no topo de uma porta, A Porta do Inferno, inspirada na “Divina Comédia” de Dante. A representação de um corpo masculino, nu, numa posição sugere-nos que reflete sobre algo. Talvez sobre o sentido da vida.
São vários os escritores que exploram este tema. Consideremos Herman Hesse e Leo Tolstoi. Para o primeiro a vida é um caminho de autoconhecimento, uma espécie de jornada interior. O tema é abordado em vários dos seus livros, sendo talvez os mais simbólicos “Siddhartha”, “Narciso e Goldmund” e “Demian”. Já o segundo relacionou a preocupação crescente dos seres humanos com tema à medida que se aproxima a morte, como é percetível no livro “A Morte de Ivan Ilitch”. Uma das suas teses é a de que só o amor dá sentido à vida.
Observemos ainda o caso da pintora Frida Kahlo e da escritora Virginia Wolf que habilmente utilizam a suas experiências de vida, trágicas e debilitantes, para atribuir um novo sentido às suas vidas. Nestes casos, a arte surge como transformadora e como uma forma de lidar com a dor, resignificando-a e mostrando-a ao mundo.
MAS e o comum dos mortais? Utilizando palavras de outros diria que existem várias formas de encarar o sentido da vida e, considerando isso, aqui ficam algumas sugestões provocatórias.
Comecemos por todos aqueles que têm fé e se guiam pelas palavras da sua religião e dos seus livros sagrados. Diria que esses são os sortudos, pois acreditam cegamente que a vida tem um sentido.
Há os que confiam plenamente nas capacidades humanas e, imbuídos dessa autoconfiança e positividade, defendem a ideia de que “o sentido da vida, é o que você quiser que ele seja. Nós somos o universo contemplando a si mesmo” (Stephen Hawking).
Na vertente oposta temos os incrédulos que não encontram sentido na vida e, como William Shakespeare na peça Macbeth, advogam que “A vida é cheia de som e de fúria, mas não tem sentido”.
Temos ainda os pessimistas que problematizam, mas simplificam a resposta de uma forma mais “fria”, como Franz Kafka. Plenamente enquadrado na sua ideia do absurdo da existência humana refere: “O sentido da vida é que ela termina”.
Agora é só escolher a versão com que mais nos identificamos e procurarmos, conscientemente, qual o significado da nossa vida e viver em consonância com essa escolha.
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Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico.
[1] Destacaríamos os trabalhos de Kierkegaard (1813-1855), Nietzsche (1844-1900), Heiddeger (1889-1976), Sartre (1905-1980) e Camus (1913-1960).