Voadores de Papantla, uma tradição de altos voos

As danças indígenas da América Hispânica, durante o período colonial, foram proibidas pelos espanhóis, muitas delas desapareceram com o tempo, enquanto que outras persistiram. Entre elas, sobreviveu a Dança dos Voadores de Papantla, no México.

Esta dança foi preservada e transmitida entre gerações, através dos grupos indígenas dos nahuas e dos totonacos, que habitam na Serra Norte de Puebla e no estado de Veracruz, mas, especialmente, na cidade de Papantla de onde vem o nome desta dança.

As origens desta cerimónia não são certas, porém, é possível apontar para a época pré-hispânica para o seu início. Contam as lendas que, há muitos anos, uma grande seca atingiu toda a região, trazendo com ela fome, doenças e morte. Um grupo de velhos feiticeiros tiveram uma visão de como se poderia salvar o seu povo e encomendaram a um grupo de jovens a tarefa de procurar e cortar a árvore mais alta do monte, para utilizá-la num ritual de música e dança e pedir, assim, aos deuses chuva e água. Esta dança deveria ser feita num local alto, para que as preces chegassem depressa aos céus onde os deuses habitavam. Conta-se que o ritual foi bem-sucedido e, por isso, passou a realizar-se periodicamente, para que, desta forma, nunca mais ficarem sem chuva.

A cerimónia começa muito antes da dança, quando os grupos indígenas seleccionam a árvore a ser cortada e que é aprovado pela máxima autoridade do grupo indígena, o caporal. Quando a árvore é escolhida, esta autoridade indígena canta e dança à volta da árvore e pede perdão aos deuses por tirar a vida de um ser vivo da natureza. Depois de cortada, as ramas e as folhas são retiradas para fixar o tronco num local escolhido e realizam-se cânticos e orações para abençoar o tronco, para que, durante o ritual de dança, nenhum dos participantes perda a vida.

MG_voadoresdepapantlaumatradicaodealtosvoos_1Após esta cerimónia, já pode ter começo o ritual de dança, os participantes sobem até ao ponto mais alto do tronco, que está preso à terra, e o caporal toca uma pequena flauta e um tambor. Seguindo o ritmo da música, o resto dos participantes (quatro pessoas, em que cada um representa os pontos cardeais – Norte, Sul, Leste e Oeste) apenas presos nos pés por uma corda, começam a girar à volta do tronco a uma altura que vai entre os 20 e os 30 metros e, assim, girando vão descendo do tronco. Desde o ponto mais alto, o caporal, que continua com a música, faz sinais que indicam certas acrobacias, ou movimentos que devem ser feitos pelos que se encontram pendurados pelas cordas.

Cada voador gira à volta do tronco treze vezes, que multiplicada pelos quatro voadores dá um total de 52 voltas e que representam um ciclo solar nos calendários indígenas pré-hispânicos. Quando estes voadores se encontram próximos do solo, viram o corpo, posicionando-o de forma normal, e aterram.

Com o passar do tempo, incorporou-se à dança elementos ocidentais e modernos, como a utilização de alguns elementos nos trajes, ou o desuso do tronco de madeira, que deu lugar ao uso de um longo tubo metálico. A introdução destes novos elementos é considerada como negativa para a tradição, já para não falar que esta dança tem adquirido características de espectáculo e circo. Tudo isto rompe com o carácter sagrado da cerimónia, pelo que se criou a Unión de Danzantes y Voladores de Papantla, que se encarrega de preservar a tradição do modo original.

No ano de 2009, esta dança, também chamada de “A Dança dos Homens Pássaro”, foi declarada Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO. Se ficaste com curiosidade de ver melhor como é esta dança, proponho-te a que assistas a este vídeo:

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