A resposta a esta pergunta não é linear. Existem diversos factores a serem tidos em conta e cada família tem a sua própria dinâmica. Escrevo este texto com base na minha experiência familiar, tanto ascendente como descendente.
Os meus pais sempre gostaram de viajar, o meu pai era marinheiro e a minha mãe uma alma inquieta. O gosto do descobrimento estava-lhes no sangue. Lembro-me de viajar com eles desde muito miúda, fosse por Portugal, fosse além-fronteiras. Era um programa familiar enraizado e feito com calma e naturalidade. Tenho como uma das minhas melhores memórias de infância uma viagem de carro de Lisboa a Casablanca.
Devia ter uns 8 anos e não me lembro ao certo o que visitei, mas guardo como molde da minha personalidade as sensações que vivi. Mesmo que não recorde e não tenha dado importância ao enriquecimento cultural que uma viagem traz, há sempre uma semente que fica, um cheiro que desperta os sentidos e um sentimento que se distingue do quotidiano. Há uma riqueza em mim que não sei explicar ao certo mas que me foi dada através das viagens que fiz em criança e é precisamente esta riqueza que eu gostaria de passar ao meu filho.
Eu e o meu marido sempre viajámos bastante em casal e depois de sermos pais queríamos continuar a fazê-lo. Esta vontade aliada à sorte de termos tido um rapaz saudável, tranquilo e bem-disposto fez nascer a combinação perfeita para passearmos em família. Não há sítio que visitemos sem o nosso filho. Passeamos bastante por Portugal e, quando temos oportunidade (e orçamento), metemo-nos num avião e vamos todos à descoberta.
Viajar com uma criança é experienciar uma viagem dentro de uma viagem. Conscientes que o tempo de um adulto não é o tempo de uma criança, acabamos por traçar uma rota que depois é percorrida com a velocidade própria de quem não quer saber de rotas. As viagens são marcadas pela observação de um passarinho que passeia à porta do museu mais importante da cidade ou pelo parque de baloiços que fica a caminho do miradouro mais popular. Somos testemunhas do entusiasmo de voar acima das nuvens ou de mergulhar numa praia deserta depois de uma longa viagem de carro. Respondemos a perguntas e inventamos histórias. Experimentamos comidas diferentes e falamos com pessoas que não falam a nossa língua, sem pudores. Andamos devagar e visitamos museus à pressa. O cansaço anda de mãos dadas com o amor e o entusiasmo constante da novidade compensa a lentidão das caminhadas.
Viajar em família não é ser turista, é ser viajante de um tempo e espaço que transcende o tempo e espaço.
Para a semana vou uns dias a Barcelona em família, sei que muita coisa que eu e o meu marido faríamos apenas os dois, não vamos conseguir fazer. O ritmo é outro. No entanto, não há nada que compense a doçura de quem descobre a vida pela primeira vez.