Uma das armas para declararmos à vida que enfrentamos as batalhas que nos assaltam com material bélico feito de nós é o sentido de humor. Pode não resolver, mas ajuda a dissolver. Lá por estarmos mal, não temos que ficar pior.
Em situações de tensão pode não ser fácil e até parecer irresponsável e absurdo, mas funciona! É que o que está [mal] feito, feito está. Até podemos ir ao fundo e, na pior das hipóteses, ficar por lá, mas não temos que cair no desencanto sem encanto nem na desgraça sem graça.
O sentido de humor, sem ser sarcástico nem cair na falta de respeito, é um modo de suavizar o paladar acre de determinadas situações da vida, condimentando-a com uma pitada de piada e transformando-a em agridoce. Esta pode ser uma forma de lidar com o problema sem deixar de pensar nele. “Falar é fácil”, dirão alguns. “Nem todos são assim”, dirão outros. Outros também dirão: “isso é leviano e ridículo. É ignorar a realidade”. Digam o que disserem, a verdade é que o sentido de humor pode inverter perspectivas, permitindo reavaliar situações negativas pelas quais passamos e atenuar a sua carga pesada. Não significa fugir da situação. É, simplesmente, ver o problema sob um ponto de vista que nos ajuda a dar potência ao encanto da vida. Daí que o bom humor seja uma coisa séria e deva ser levado muito a sério, pois quem ri consegue colocar-se, por momentos, à distância do problema e até mesmo ”acima” da desgraça.
No seu livro A Arte de não Amargar a Vida, o psicólogo espanhol Rafael Santandreu, diz que “o humor tem a capacidade de retirar a pessoa do estado mental negativo para a devolver à realidade”. Seja ela perda, doença, frustração ou embate de natureza diversa, o sentido humor não mascara os acontecimentos e não nos torna irrealistas nem ilusórios. Muito menos temos que nos sentir culpados por darmos ânimo à dor. A dor não deixa de ser sentida. Apenas na dose e alturas certas, torna-nos sábios que distraem a mente com o tempo da graça. E se não nos sentirmos capazes, a solução também passa por nos rodearmos de pessoas bem-dispostas cujo bom humor nos contagie de risos nos trilhos dos contratempos.
Que não nos importemos com o que os outros pensam, até porque hão-de pensar sempre alguma coisa, e esse não é um problema nosso. Temos é que desconstruir preconceitos [os nossos, principalmente] com o siso do nosso riso, que, a bem-dizer, se traduz na nossa competência para darmos um impulso de subida à descida…
Porque os acontecimentos acontecem na mesma, ao menos que os enfrentemos com todos os nossos [bons] sensos, principalmente o de humor. Assim torna-se mais fácil atravessar, e ultrapassar, a tempestade.
Frida kahlo dizia que “amuralhar o próprio sofrimento é arriscar que ele te devore a partir do teu interior”. E não é que é mesmo!?
* Nota da autora: Tudo o que aqui é dito é resultado de experiência própria.