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Utopias

Nas últimas semanas tem-se começado a discutir por cá um conceito que está a começar a ser testado em alguns países, o do Rendimento Básico Incondicional. Embora seja um conceito com mais de 20 anos, ele agora, face a um conjunto de mudanças que a nossa sociedade e a nossa economia tem vivido, em termos mundiais, vem para a ordem do dia, talvez com um primeiro sinal de que há um sistema que precisa de mudar e que alternativas precisam de ser criadas.

Primeiro que tudo, é preciso compreender que este conceito preconiza que cada cidadão tenha direito a um rendimento igual, independentemente de tudo o resto que eventualmente possa ter, independentemente de trabalhar ou não, de contribuir ou não para o crescimento ou desenvolvimento da sociedade. Na prática, quer a pessoa trabalhe muito, quer esteja sentada no sofá o dia inteiro, recebe o mesmo, por parte do Estado, sem qualquer restrição. À primeira vista, esta pode ser uma solução muito injusta e potenciadora de uma enorme fractura social, algo que acredito que possa acontecer se ela for aplicada sem antes haver um conjunto de transformações sociais, económicas, financeiras, estruturais e conceptuais. Num segundo olhar, pergunto-me como manter a sustentabilidade duma medida destas, numa perspectiva de perpetuidade, algo que os próprios teóricos da medida não respondem.

Numa sociedade ideal, todos contribuímos com o nosso melhor, com o que sabemos fazer, com as nossas capacidades, para o seu desenvolvimento e evolução. Numa sociedade ideal, um carpinteiro faz móveis, um artista pinta, esculpe ou escreve uma música, um professor ensina, um médico trata das doenças, em suma, cada um faz o que sabe realmente fazer e todos são felizes, pois crescemos em conjunto e auxiliamo-nos uns aos outros. Numa sociedade ideal, não tiramos cursos a pensar nas possibilidades profissionais e financeiras em vez da vocação, não existe a maldade de enganar as entidades estatais para receber mais uns trocos, não existe uma desresponsabilização individual no momento de tomar decisões colectivas.

Claramente não vivemos numa sociedade ideal, mas caminhamos para grandes mudanças sociais. A clara terciarização do trabalho, assim como o desenvolvimento tecnológico, faz com que determinados trabalhos passem a ser mais automatizados e, como tal, profissões desapareçam num médio/longo prazo, solicitando um investimento elevado em tecnologia, mas levando a uma progressiva redução dos custos de trabalho, assim como a um nivelar, se não formos regidos por ganâncias, dos preços dos produtos. Com uma evolução desta natureza, os níveis de desemprego tornar-se-ão um flagelo da sociedade, bem pior que uma peste negra, cuja solução poderá, efectivamente, passar por medidas como o rendimento básico incondicional.

No entanto, há também a questão de justiça e de desenvolvimento social. É necessário que cada um de nós mude a sua forma de estar e de pensar, perante a vida e perante a sociedade, compreendendo também que somos todos parte de um todo e que temos responsabilidades perante esse todo. Isso implicaria também que cada um pudesse dar mais à sociedade, mais do que sabe e do que pode, algo que, nas próximas décadas, acho difícil, pois ainda vivemos baseados num pensamento egocêntrico, fechado no indivíduo, na progressão social, no objectivo da riqueza e do reconhecimento, seja de que forma for. No momento em que isso mudar, esse rendimento básico passa a ser suficiente. Na verdade, nem será sequer necessário, pois, nesse momento, toda a realidade financeira estará preparada para mudar, pois o dinheiro, como energia de troca, deixará de ser necessário. Olhando para tudo isto, apraz-me dizer: utopias. O problema é que até acredito nelas.

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